O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, disse, esta quarta-feira, em Lisboa, que a União Europeia não consegue falar eficazmente a uma só voz perante as crises geopolíticas em curso e que é incapaz de enfrentar o crescimento de uma cultura do medo.
Numa intervenção feita na Universidade Católica Portuguesa sobre a “Identidade Europeia”, Parolin referiu que os recentes ataques terroristas de “matriz islâmica” levaram a um “curto-circuito do medo” e mostraram a necessidade de recuperar as “raízes culturais profundas do continente".
“Não se deve desvalorizar o crescente sentimento de medo e de insegurança nas populações europeias”, que evolui para a “recusa do outro”, alertou o "número 2" do vaticano, que está em Portugal para presidir às celebrações de 12 e 13 de Outubro, em Fátima.
O secretário de Estado do Vaticano assinalou que o medo pode causar “graves danos” às instituições democráticas e ao “sistema de valores” da Europa.
O cardeal Pietro Parolin admitiu a existência de “preocupações pelo futuro do projecto europeu”, sem esquecer os “resultados históricos obtidos”.
Para o cardeal italiano, é preciso debater o projecto da União Europeia, actualmente um “híbrido democrático” entre soberania nacional e soberania comunitária.
A intervenção começou por recordar o papel “imprescindível” do Cristianismo na construção da identidade europeia, convidando à redescoberta das “raízes cristãs” do continente.
“A Europa tem necessidade da Palavra de Deus”, sustentou o secretário de Estado.
O responsável pela diplomacia da Santa Sé lamentou que, após as duas Guerras Mundiais, se assista à perda do “ideal” de unidade europeia, por “falta de valores comuns”.
A comunicação do cardeal italiano foi acompanhada por centenas de pessoas no auditório Cardeal Medeiros.
Parolin dirigiu uma palavra particular à Universidade Católica, que se prepara para celebrar o seu 50.º aniversário, apresentando a instituição académica como “um dos frutos” da dinâmica gerada pelas aparições de Fátima.
O cardeal Pietro Parolin foi acompanhado por D. Manuel Clemente, cardeal patriarca de Lisboa. O também magno chanceler da UCP sublinhou que “poucos” como o secretário de Estado do Vaticano poderiam traçar o quadro actual da Europa, uma realidade que “aparece por acção de várias missões” cristãs, entre o século V e o século X, criando um continente como “espaço cultural”.
“Nesta casa [UCP] juntam-se duas realidades que estão na alma da Europa: a Igreja e a universidade”, acrescentou D. Manuel Clemente.
Já Maria da Glória Garcia, reitora da UCP, agradeceu a “atenção” e a palavra que o cardeal italiano dedicou à instituição académica nesta sua visita a Portugal, “um suplemento de alma” para seguir em frente.
A responsável também assinalou que a universidade nasceu como “último acto” das comemorações das aparições de Fátima.