O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, confirmou esta terça-feira, no Conselho Nacional do partido, que não se recandidata à liderança dos sociais-democratas. É a decisão que "faz sentido" depois da "surpresa" dos maus resultados para o PSD das eleições autárquicas, disse Passos.
Passos propõe a realização de eleições directas já em Dezembro, caso o partido considere útil que abandone a liderança mais cedo.
"Não me tendo demitido, isso não significa que não deva mostrar total disponibilidade para não perpetuar, por mera questão de calendário, a marcação de eleições internas e respectivo congresso. Se esse for o desejo do Conselho Nacional podemos fazer directas em Dezembro", afirmou aos conselheiros nacionais e aos jornalistas (o início da sessão, o momento em que Passos falou, foi aberto à comunicação social).
As eleições só não se realizam mais cedo pois "é preciso respeitar as nossas regras democráticas, que estão muito testadas. É preciso que as eleições decorram com transparência, que todos tenham tempo para pagar quotas, angariar apoios e fazer listas e acho que dois meses e meio é tempo para se fazer bem as coisas", disse Passos.
Nas suas palavras dirigidas ao Conselho Nacional, Passos Coelho afirmou ainda que concluiu, após o resultado das autárquicas, que a sua continuação à frente do partido seria contraproducente para o mesmo. "Se eu permanecesse vitorioso à frente do PSD, em vez de estar a construir uma alternativa de Governo estaria em permanência a combater o preconceito e a ideia feita de que estava agarrado ao poder e a resistir ceder o lugar a quem tem melhores ideias e estratégia para levar o partido a melhor porto."
"A afirmação de uma nova liderança por parte do PSD, bem
como da estratégia que lhe estará associada, terá melhores probabilidades de
progressão e sucesso do que uma que eu poderia encabeçar. Digo isso porque o
ambiente que se gerou ao longo destes dois anos torna o resultado das eleições
um resultado que centra na liderança do PSD a afirmação de uma alternativa, em
vez de libertar o PSD para a construção dessa alternativa", disse ainda.
"Ficar seria oferecer a caricatura que estamos agarrados
apo poder interno e que nessa medida estaríamos simplesmente a resistir às
coisas em vez de construir um horizonte que pudesse trazer uma amplitude de
resultado maior", concluiu.
No final do discurso, Passos Coelho prometeu que não deixará de participar activamente na vida política nacional e do partido, apresentando as suas ideias (o que mereceu fortes aplausos), mas disse ainda que não ficará a "rondar" nem a "assombrar" a próxima liderança.
O ex-primeiro-ministro admitiu ter ficado surpreendido com a dimensão da derrota do partido nas autárquicas e disse que essa derrota era para ser assumida, ao contrário do que, disse, se passa noutros partidos.
"Outros tiveram resultados ainda mais pesados, foram praticamente varridos e parece não estarem preocupados com isso, evidentemente. O Bloco de Esquerda não perdeu muito, porque não tinha para perder, o PCP perdeu mas acha que há outras coisas que compensam", disse, elogiando ainda a prestação de Assunção Cristas na sua candidatura a Lisboa.
Rui Rio candidato?
Rui Rio deve avançar com uma candidatura à liderança do PSD. O antigo presidente da Câmara do Porto reuniu-se na segunda-feira à noite com várias figuras do PSD em Azeitão, no distrito de Setúbal, e, numa declaração ao "Diário de Notícias", assume que vai continuar a fazer contactos. “O que era notícia é que eu não falasse com ninguém nesta altura”, disse Rio.
A saída de Passos era já pedida por várias vozes importantes do PSD. Logo na noite eleitoral, Manuela Ferreira Leite, ex-presidente do PSD, disse-se "chocada" com os resultados do PSD e concluiu que Passos Coelho "não tem" condições para continuar. Marques Mendes, outro ex-presidente laranja, disse que a vida de Passos seria um "inferno completo", dando como provável a sua saída.