O ex-primeiro-ministro José Sócrates disse esta terça-feira, à saída do segundo dia de interrogatório no Tribunal Central de Instrução Criminal, que estava muito satisfeito com tudo o que se tem passado na sala de audiência.
No final de mais uma tarde de interrogatório da fase de instrução do processo Operação Marquês, José Sócrates não falou sobre os temas acerca dos quais tem sido inquirido pelo juiz Ivo Rosa, mas disse estar "muito satisfeito como as coisas estão a correr".
Perante o juiz, segundo fontes ligadas ao processo, o ex-primeiro-ministro reiterou que não interferiu na nomeação de Armando Vara para administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), em 2006, à semelhança do que disseram testemunhas por si arroladas na fase de instrução, nomeadamente o ex-ministro das finanças Teixeira dos Santos.
Para o advogado de Armando Vara, "hoje ficou mais claro que não foi Sócrates quem escolheu Armando Vara para a administração da CGD e que não teve nenhuma influência na nomeação".
Quanto à sua intervenção no negócio da construção do resort de Vale do Lobo, no Algarve, o ex-primeiro-ministro negou tudo e reafirmou, perante o juiz, aquilo que tinha dito no interrogatório do MP, que apenas conhece o restaurante tailandês do empreendimento algarvio.
Segundo o Ministério Público, os pagamentos feitos a José Sócrates pelo grupo que liderava o empreendimento turístico tinham como objetivo flexibilizar os financiamentos concedidos pela CGD, dirigida por Armando Vara.
"José Sócrates conluiado com o arguido Armando Vara, à data administrador da CGD, recebeu também pagamentos com origem em receitas desviadas do grupo Vale de Lobo", indica a acusação
Sócrates não conhecia Joaquim Barroca, administrador do Grupo Lena
De acordo com o "Público", José Sócrates afirmou que praticamente não conhecia Joaquim Barroca e que também não sabia que o Grupo Lena, do qual Barroca era administrador, fazia parte do consórcio para o TGV .
O MP acredita que o Grupo Lena era beneficiado, através do intermediário Carlos Santos Silva, no domínio de procedimentos concursais, através da antecipação de informação e da conformação contra a lei dos respetivos procedimentos e contratos adjudicados.
O antigo primeiro-ministro negou ter tido alguma intervenção ou ter recebido dinheiro pela adjudicação ao consórcio Elos, que incluía empresas do grupo Lena, do primeiro troço do TGV, entre Poceirão e Caia, que iria custar 1.400 milhões de euros.
Apesar de negar ter beneficiado o consórcio, o ex-governante disse, segundo as fontes ouvidas pela Lusa, que o comboio de alta velocidade é uma boa opção para Portugal.
Na quarta-feira continua o interrogatório do juiz Ivo Rosa e do Ministério Público ao ex-primeiro-ministro que deverá esgotar os quatro dias que foram marcados para se defender na fase de instrução.
Sócrates está acusado de corrupção, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada. Ao todo, a Operação Marquês conta com 28 arguidos, acusados de 188 crimes.
Considera o MP que Sócrates recebeu, entre 2006 e 2015, um total de 34 milhões de euros, a troco de favorecimento a interesses do Grupo Espírito Santo, na concessão de financiamento por parte do banco público ao empreendimento Vale do Lobo e ao Grupo Lena, dinheiro esse que terá sido movimentado por contas de Carlos Santos Silva, o empresário amigo do ex-governante também acusado neste processo.
A fase de instrução, facultativa e requerida por 19 arguidos, visa apurar se existem indícios suficientes para o processo seguir para julgamento e, se sim, em que termos.