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Os laboratórios privados apontam para uma queda de cerca de 60% nos testes à Covid-19, entre janeiro e fevereiro.
Passada uma semana do anúncio de uma nova estratégia de testagem, os laboratórios estão na verdade a testar menos e na construção civil, por exemplo, não há indícios dos testes em massa que tinham sido anunciados.
A Renascença falou esta segunda-feira com o médico Germano de Sousa, que é responsável por um dos principais grupos laboratoriais do país e que aponta para uma queda no número de testes realizados para menos de metade, em relação ao início do ano, quando Portugal estava no pico da designada terceira onda da pandemia.
"Em janeiro chegámos a fazer, no conjunto de públicos, académicos e privados - os privados, como sabe, fazem metade dos testes do país - aos 70 ou 77 mil. Eu cheguei a ter dias de 10.400 testes por dia. Na primeira semana de fevereiro começaram a baixar e na segunda semana de fevereiro também. Portanto a semana que passou eu estou com 4.000 testes por dia. Mas não sou só eu, o total anda pelos 30 mil", afirma.
Germano Sousa não tem uma explicação para a descida, mas admite que pode estar relacionada com a diminuição do número de novas infeções, ou com a necessidade de afinar a estratégia de aumento massivo da testagem.
Uma coisa é certa, diz Germano de Sousa: O problema não está nos laboratórios. O médico diz ter capacidade para superar os doze mil testes diários. Em declarações à Renascença avisa ainda para a importância de aumentar os rastreios.
"O que me interessa a mim é tomar medidas e essas medidas são testar, testar, testar, seguir, seguir, seguir. E seguir nos círculos mais alargados, sem hesitação e sem esperas."
"E é preciso pessoas nas equipas de saúde público para rastrear as pessoas que são positivas. De que me serve a mim fazer testes, como aconteceu em janeiro, e parte dessas pessoas positivas não foram contactadas em tempo útil? Às vezes só ao fim de sete ou oito dias", lamenta.
A nova norma de testagem alargou a realização de testes à Covid-19 a todos os contactos de um infetado, incluindo os de baixo risco. Foi alargada a realização de rastreios em escolas, prisões, fábricas ou na construção civil nos concelhos de maior risco.
Contudo, profissionais destes setores contactados pela Renascença traçam um retrato misto do que se está a passar no terreno.
A Associação Portuguesa da Indústria do Calçado revela que, nas últimas semanas, os testes têm aumentado. Uma resposta de empresas e autoridades de saúde a um número elevado de trabalhadores infetados, ou em isolamento. Há mais de seis mil nessa situação.
O porta-voz da APICAPS, Paulo Gonçalves, diz, no entanto, que essa testagem deve ser mais abrangente. "O número de testes, do nosso ponto de vista, devia ser generalizado, porque só dessa forma criaremos condições objetivas para que a segurança nas nossas empresas esteja assegurada e simultaneamente os colaboradores possam honrar os seus compromissos profissionais e o setor possa fazer o que melhor sabe fazer que é fabricar calçado e exportá-lo para o mundo todo".
Já no setor da construção, a norma da DGS não está a ter impacto. Albano Ribeiro, presidente do Sindicato da Construção Civil, revela que em termos gerais, não houve aumento de testes.
“Na construção temos os patrões angariadores. Esses não cumprem com ninguém, então nesta situação ainda pior. Depois temos os empresários de pequena, média e grande dimensão, esses desde o início tomaram medidas. Mas é preciso que essa testagem em massa, que foi dita na televisão, tem de chegar ao terreno, porque não está a acontecer."
O sindicalista Albano Ribeiro apela, por isso à Ministra da Saúde para que visite várias obras pelo país e avalie o que diz ser um problema desde o início da pandemia.
A Renascença tentou ainda contactar a DGS, mas sem sucesso.