A Suíça vai realizar uma conferência internacional de alto nível sobre a paz na Ucrânia em 15 e 16 de junho, mas a Rússia não tenciona participar, anunciou hoje o Governo suíço.
"Este é o primeiro passo para um processo de paz duradouro", afirmou a Presidente da Suíça, Viola Amherd, numa conferência de imprensa em Berna, citada pela agência francesa AFP.
Amherd disse que não será assinado um plano de paz na conferência, mas que espera que se realize um novo encontro posteriormente.
"Esperamos iniciar este processo", acrescentou.
O ministro dos Negócios Estrangeiros suíço, Ignazio Cassis, afirmou na conferência de imprensa que a Rússia não tenciona participar.
Cassis disse que a Rússia foi o primeiro país contactado, depois da Ucrânia, e que o encontro visa ajudar a traçar um caminho para a paz, na esperança de que Moscovo possa um dia juntar-se ao processo.
"Não é possível alcançar um processo de paz sem a Rússia, mesmo que esta não esteja presente na primeira reunião", afirmou.
Cassis disse que na primeira conferência poderá chegar-se a um acordo "sobre a melhor forma de convidar a Rússia" para a fase seguinte.
Numa reação imediata ao anúncio da conferência, Moscovo considerou a iniciativa como um projeto do Partido Democrata norte-americano, do Presidente Joe Biden.
"Por detrás de tudo isto estão os Democratas norte-americanos, que querem fotos e vídeos de um evento deste tipo para mostrar que o seu projeto 'Ucrânia' continua vivo", comentou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, à agência estatal TASS.
Zakharova denunciou os motivos como eleitoralistas, numa alusão à batalha que está a ser travada por Republicanos e Democratas antes das eleições presidenciais de novembro.
Os Republicanos têm vindo a bloquear, há meses, a ajuda militar de que Kiev tanto necessita.
"As eleições são tudo para eles, a Ucrânia não é nada", afirmou Zakharova, acusando os líderes Democratas de porem "em perigo milhares de ucranianos" ao apoiarem Kiev contra Moscovo.
Ao invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022, Moscovo alegou que Washington estava a utilizar Kiev como um instrumento para enfraquecer a Rússia por procuração.
A conferência deverá realizar-se na estância balnear de Burgenstock, junto ao Lago Lucerna (ou Lago dos Quatro Cantões), no centro da Suíça, segundo a agência norte-americana AP.
Espera-se que junte altos funcionários governamentais de dezenas de países, seguindo um plano estabelecido pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e por Cassis nos últimos meses.
O diário suíço Neue Zürcher Zeitung noticiou hoje que o Presidente dos Estados Unidos poderá participar na conferência.
Joe Biden deverá estar em Itália durante esse período para a reunião dos líderes do G7, embora o seu gabinete não tenha dito se participará na conferência suíça.
Berna disse que as primeiras negociações para organizar a conferência envolveram a União Europeia e os enviados do chamado Sul Global, incluindo Brasil, China, Etiópia, Índia, Arábia Saudita e África do Sul.
"Na reunião de hoje, o Conselho Federal tomou nota dos resultados obtidos até à data e discutiu os próximos passos", disse o Governo suíço num comunicado citado pela AP.
O Governo de Berna acrescentou que "existe atualmente apoio internacional suficiente para uma conferência de alto nível para lançar o processo de paz" na Ucrânia, após mais de dois anos de guerra.
Outra das incógnitas é a China, cujo Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou que Pequim apoia uma conferência que seja aceite pela Rússia e pela Ucrânia, o que não é o caso até agora.