Em Portugal o consumo de tabaco entre os jovens - dos 13 aos 18 anos - não está a cair ao ritmo do que acontece no resto da Europa. O alerta é deixado na Renascença pela pneumologista Sofia Ravara que se mostra muito preocupada com os comportamentos dos jovens no que se refere ao tabaco.
A especialista fala numa acumulação de experiências: os jovens dos 13 os 18 anos fumam cigarros tradicionais, cigarros eletrónicos, cachimbos de água e até tabaco aquecido, que segundo a indústria só é vendido a adultos, o que é preocupante porque é um produto cancerígeno.
“Mesmo o tabaco aquecido, já experimentado por 5% dos jovens dos 13 aos 18 anos, é tabaco”, sublinha Sofia Ravara, destacando que “o tabaco tem os mesmos constituintes”.
“Ele vai sofrer um processo de degradação térmica a uma temperatura mais baixa, mas é um processo de degradação térmica exatamente como outro, com uma temperatura mais baixa e uma combustão completa, mas que vai libertar exatamente os mesmos constituintes, alguns em concentrações mais altas, outras em concentrações mais baixas, mas são produtos também tóxicos carcinogénicos, portanto, não há consumo seguro destas substâncias”, alerta a pneumologista.
“E depois, ao inalar estes produtos, ao fumar o tabaco aquecido, vamos expor todos os órgãos e todos os sistemas do nosso organismo a estas substâncias altamente tóxicas, irritantes e carcinogénicas”, acrescenta.
Sofia Ravara, que integra a Comissão de Trabalho de tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, alerta também para a publicidade aos novos produtos, como os cigarros eletrónicos, que é muito agressiva e eficaz para os jovens.
“Se reparar os produtos de tabaco aquecido estão numa montra especial, parecem cosméticos lindíssimos, como os perfumes das senhoras, têm um design altamente apelativo, assim como o outro cigarro. E não é por acaso que eles estão ao pé das guloseimas das crianças. Até subliminarmente, isto é poderosíssimo, a criança que acompanha o pai, que vai à bomba de gasolina, ela vê outros adultos a comprar maços de cigarros e a criança pede as gomas ou o gelado. E essas guloseimas estão exatamente ao pé dos cigarros”, observa.
A pneumologista alerta ainda que o consumo de cigarros eletrónicos se aproxima muito do consumo dos cigarros tradicionais e defende uma ação concertada para travar o acesso dos jovens ao tabaco: e isso passa por aumentar os preços, acabar com a publicidade e restringir os locais onde é permitido fumar.
Segundo Sofia Ravara é preciso “aumentar o preço de uma forma eficaz. Tem que ser todos os anos, e o aumento de preço tem que estar acima da inflação e tem que ser para todos os produtos de igual forma”.
Para a especialista, é fundamental também “abolir a publicidade nos pontos de venda” e dá o exemplo de vários países europeus onde o tabaco está guardado num “armário fechado sem avisos nenhuns”.
A pneumologista defende também que deve ser proibido fumar em todos os locais, até em espaços exteriores, como estádios e parques, argumentando que a questão da “visibilidade de fumar também ensina muito os jovens a quererem imitar o comportamento adulto”.
“Depois é muito importante que os maços de cigarros, hoje em dia já se fala, os próprios cigarros não terem design, ou seja, os maços de cigarros, como já acontece em vários países europeus, tem uma cor esverdeada ou castanho, é uma cor que até é um bocadinho repugnante, foi estudada nesse efeito, não tem o logótipo e não tem qualquer design da marca”, conclui.
Todos os anos, o mundo assinala o Dia Mundial sem Tabaco, a 31 de maio, para sensibilizar as populações para os impactos negativos na saúde, sociais, económicos e ambientais da produção e do consumo de tabaco.
O tema escolhido para este ano, “Tabaco: Ameaça ao nosso ambiente”, pretende realçar o impacto ambiental de todo o ciclo do tabaco, desde o cultivo, produção e distribuição, até aos resíduos tóxicos que gera.