Regresso às igrejas. Como fizeram os outros países?
08-05-2020 - 19:47
 • Filipe d'Avillez

Fiéis com máscara, padres sem, missas específicas para idosos e regras sobre a comunhão. As orientações para as igrejas portuguesas estão iminentes, mas saiba o que pode esperar, com base no que tem sido feito da América à Eslováquia.

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No dia em que os católicos portugueses ficaram a conhecer as normas da Conferência Episcopal para o recomeço das missas com fiéis, exceto na Madeira, onde já foram anunciadas, a Renascença mostra-lhe como têm feito outros países em relação a esta matéria.

As orientações variam nos detalhes, mas coincidem no essencial, nomeadamente na recomendação de uso de máscara pelos fiéis, no distanciamento social dentro da Igreja e na recomendação de que os membros de grupos de risco fiquem em casa.

Apesar de a situação em Espanha estar bastante mais grave do que em Portugal, as missas com fiéis devem ser retomadas já na segunda-feira e estão previstas três fases até ao regresso à normalidade.

Os bispos esperam que os cinco dias de missa durante a semana sirvam de ensaio para ver se as normas são suficientes para garantir as maiores enchentes ao domingo.

Assim, na primeira fase as igrejas só podem ter um terço da sua lotação. Apesar de já ser possível os fiéis assistirem à missa presencialmente, isso não constitui obrigação, pelo que sobretudo os membros de grupos de risco são convidados a ficar em casa e assistir à missa através dos meios tecnológicos.

Onde possível, os bispos pedem que se aumente o número de celebrações e recomenda-se o uso de máscaras por parte de todos os fiéis. As pias de água benta devem manter-se vazias e as portas abertas para que não seja preciso serem tocadas com as mãos.

Os coros são para evitar, embora possa haver um cantor isolado e instrumentos, o sinal da Paz deve ser substituído por cumprimentos sem contacto e não se passa o cesto para donativos de mão em mão.

Recomenda-se ainda a desinfeção frequente dos objetos litúrgicos e o arejamento das igrejas.

A diferença entre a primeira e a segunda fase tem a ver sobretudo com a lotação permitida na igreja, passando de um terço para metade e depois, na terceira fase, para a normalidade, embora se continue a aconselhar os hábitos de higiene.


EUA permite comunhão na boca

De longe as normas mais completas e rigorosas são as da Conferência Episcopal dos Estados Unidos.

A reabertura social e económica nos Estados Unidos está prevista também para três fases, embora cada estado ou região o possa fazer ao seu ritmo. Os bispos seguem esta regra.

A nível nacional, na primeira fase estão proibidos ajuntamentos de mais de dez pessoas, mas há exceções para os serviços religiosos, desde que possa ser respeitado o distanciamnto social.

Os bispos americanos insistem muito no respeito por esta distância, calculada em seis pés, ou quase dois metros e por isso recomendam que nas igrejas sejam mantidos dois bancos vazios por cada banco ocupado, o que na prática diminui a lotação da Igreja para um terço. As igrejas só devem ter culto se tiverem condições para este distanciamento, diz o documento.

Os fiéis continuam a não ter obrigação de ir à missa e os mais vulneráveis são mesmo encorajados a encontrar alternativas, pedindo a visita de ministros extraordinários da comunhão, por exemplo. Para além das naturais recomendações de limpeza e desinfeção das igrejas, pede-se aos fiéis que mantenham as caras tapadas de alguma forma, mas esta possibilidade está vedada ao padre durante a celebração. Em vez disso, o sacerdote deve respeitar a distância de seis pés para todos os outros intervenientes e desinfetar as mãos antes do início do culto.

Uma das diferenças entre as normas americanas e outras a que a Renascença teve acesso é que os bispos recomendam que na primeira e segunda fase a comunhão seja distribuída aos fiéis no final da missa. Assim, explicam os bispos, fica claro que os fiéis não se devem sentir na obrigação de comungar e, por outro lado, torna-se mais fácil respeitar regras de higiene. O padre pode retirar a casula, por exemplo, que é difícil de lavar caso alguém espirre ou tussa para cima para cima e já pode usar máscara. Os bispos americanos são também dos únicos que aceitam que os fiéis possam comungar na boca, mas recomendam que caso a mão do padre toque na boca ou na mão de quem está a comungar este deve ir de novo desinfetá-las. Só na terceira fase é que a comunhão passa a processar-se de forma normal. Neste fase as pessoas mais vulneráveis são convidadas a participar nas missas mas as igrejas devem ter espaços reservados para elas, onde haja mais distância dos restantes.

As missas ao ar livre, ou em formato drive-in, são também recomendados, onde for possível.

Ao contrário dos bispos americanos, os austríacos obrigam mesmo os padres a usar máscara na distribuição da comunhão durante a missa.

Missas específicas para idosos

A preocupação com a saúde dos idosos e membros de grupos de risco é geral, mas a Eslováquia é o único país, daqueles que a Renascença consultou, que em vez de convidar os idosos a manter-se em casa encorajam as igrejas a celebrar missas específicas para estes grupos.

Nas paróquias onde se costuma celebrar mais do que uma missa, uma delas deve ser para idosos, dizem os bispos. O documento eslovaco sugere ainda que as missas sejam o mais curtas possível e embora recomendem a comunhão na mão dizem que quem não puder receber dessa forma deve esperar no final da fila.

Outro país que tem normas exaustivas e muito completas é a Eslovénia.

As normas eslovenas começam mesmo por especificar que só pessoas saudáveis podem participar nas missas, sendo todos os outros, e grupos de risco, aconselhados a ficar em casa e assistir pelos meios tecnológicos.

As paróquias devem todas ter desinfetante à entrada e as que não conseguirem fazê-lo por si devem pedir primeiro às autoridades locais e, depois, à diocese. Sem desinfetante, dizem os bispos, não deve haver celebração.

Dentro da igreja deve manter-se uma fila vazia entre cada fila ocupada, bem como um metro e meio entre pessoas, salvo, naturalmente, membros da mesma família. Se a igreja for pequena, então devem, se possível, multiplicar-se o número de celebrações.

A comunhão deve ser distribuída por alguém com máscara e ao contrário de outros países, em vez de proibir a coleta, pede-se esta seja feita por alguém com máscara, mas evitando que o cesto seja passado de mão em mão.

Os bispos eslovenos também proíbem os padres de usar máscara durante a celebração, exceto na distribuição da comunhão, mas todos os outros colaboradores litúrgicos devem ter a boca e o nariz tapados.

A previsão atual é para que as missas com fiéis sejam retomadas a partir do fim-de-semana de 30 de maio. A decisão foi anunciada pelo Governo, depois de diálogo com a Conferência Episcopal e revela prudência por parte da Igreja, que fechou antes das ordens gerais de confinamento e reabre já depois de muitos outros serviços.

As igrejas estão a abrir a ritmos diferentes na Europa, consoante a realidade pandémica local. No Reino Unido não existe data de reabertura ainda e na Irlanda, por exemplo, só devem reabrir em finais de julho ou início de agosto.