As duas principais organizações não-governamentais portuguesas que estiveram presentes em Madrid para acompanhar os trabalhos da COP 25 fazem um balanço “pouco positivo” dos trabalhos.
Num comunicado conjunto enviado à Renascença, a Zero e a Oikos dizem que os líderes políticos falharam.
“Depois de um ano em que o mundo assistiu a uma mobilização sem precedentes pedindo urgência na ação climática, os líderes da COP25 falharam em intensificar a ação climática de acordo com o objetivo de 1,5 °C do Acordo de Paris.”
A ZERO e a Oikos “fazem assim um balanço pouco positivo da reunião que terminou dois dias depois do inicialmente estabelecido. As duas organizações consideram que existe uma falta de liderança política num processo que tem muitos países a criarem obstáculos e que tal limitou a ambição na COP25 em preparação para as decisões da COP26 em Galsgow.”
Segundo as organizações a ciência é clara, mas os políticos não estiveram à altura dos desafios. “A ciência detalha claramente as terríveis consequências que os nossos sistemas sociais, económicos e naturais estão a enfrentar. Em Madrid consensualizou-se um texto que as organizações não-governamentais consideram que cumpre apenas os mínimos mas que é melhor do que não ter havido acordo dando razão a quem está contra as políticas climáticas.”
“Porém, percebeu-se que os governos não se esforçam ainda o suficiente para responder e mostrar aos seus cidadãos que planeiam tomar ações significativas e transformadoras na preparação para a concretização de metas a formalizar em 2020”, dizem as ONG.
A Oikos e a Zero apontam o dedo especificamente aos Estados Unidos, Austrália e Brasil, acusando-os de terem revelado “apatia ao sofrimento de milhões e uma rejeição voluntária da ciência”.
Não à exploração de gás natural em Leiria
O comunicado inclui uma secção dedicada exclusivamente a Portugal, a quem se exige que se “acelere o ritmo de implementação das políticas climáticas”.
“Se quisermos ser coerentes com a emergência climática é inadmissível: o avanço da exploração de gás natural na zona de Leiria/alcobaça; a considerável expansão das emissões da aviação com o aumento de oferta não pode ter lugar; a gestão florestal não pode continuar a permitir as grandes áreas ardidas que se verificam anualmente, o modelo de uma agricultura e agropecuária intensivas tem de ser evitado, para além da necessidade de inversão do paradigma de um crescimento económico que se afirma ter de continuar com prejuízos dramáticos para o ambiente.”
A Zero e a Oikos lamentam ainda que o Estado português não tenha duplicado o financiamento para o Fundo Verde para o Clima, embora reconheçam que houve um aumento importante de um milhão de euros, consideram que este valor é “demasiado diminuto”.