Cadastro de terras. Para que serve e como está a correr?
21-06-2021 - 11:05
 • Anabela Góis , Olímpia Mairos

Secretária de Estado da Justiça explica na Renascença os contratempos do programa iniciado em 2017, mas reforça meta para 2023 "com os pés assentes no chão".

Arranca nesta segunda-feira uma nova fase do processo que tem como objetivo registar os milhões de terrenos que estão por identificar em todo o país – é o cadastro simplificado, uma iniciativa lançada depois dos trágicos incêndios de 2017.

Em entrevista à Renascença, a secretária de Estado da Justiça, Anabela Pedroso, confirma que a meta é atingir os 90% do território registado até 2023.


O cadastro simplificado e o Balcão Único do Prédio (BUPi), a plataforma onde os proprietários se podem registar, já têm quase quatro anos. Até agora, funcionou apenas em 10 municípios piloto e nesse tempo permitiu o registo de metade dos terrenos desses 10 municípios. Embora seja um avanço, parece um ritmo muito lento...

Visto e dito assim, é verdade. Apesar de o projeto ter começado antes dos grandes incêndios que tivemos em 2017, foi depois que o projeto teve maior força. Nós tivemos praticamente um ano em que preparámos o [projeto] piloto e fizemos os tais 50% da globalidade daquele território que era bastante vasto, mas o que acontece é que, depois disso, tivemos o período de um ano em que tivemos em preparação a nova Lei da Expansão. Portanto, o projeto foi considerado, de facto, um sucesso também pela Assembleia da República e o hiato que tivemos foi basicamente também o hiato de preparação da Lei da Expansão.

A lei é aprovada em 2019/2020, o grande ano da expansão [Expansão do Sistema de Informação Cadastral Simplificado (eBUPi)], que, infelizmente, pelas condições também que são conhecidas por todos, não pudemos ir para o território. E foi isto também que nos levou a este hiato – não é por lentidão, mas um facto circunstancial.

O objetivo é atingir os 90% do território registado, até ao final de 2023. Esta meta mantém-se?

É uma meta muito ambiciosa, mas também temos os pés bem assentes no chão para o poder dizer. E é aqui que entra este segundo momento da expansão. Nós começamos no final deste ano, praticamente em dezembro, mas em janeiro começamos, então, o grande momento de entrada em funcionamento com todos os municípios.

Começámos primeiro a encontrar fonte de financiamento e aí temos o grande apoio da área da coesão, que lançou dois grandes avisos para a área centro e a área norte. A partir desse momento lançaram-se as bases para os municípios começarem primeiro a aderir.

Aderiram a esse primeiro aviso 138 municípios de uma região que tem cerca de 155 municípios associados.

Destes 138, tendo todos aderido – repare o ritmo em que nós estamos – a razão porque, hoje, também estamos a conversar é porque, com a entrada destes 14 da Comunidade Intermunicipal CIM Viseu Dão Lafões, avançamos hoje com 33, para a semana 48, para o início de julho 51, etc., e, portanto, o ritmo vai ser muito interessante e importante para que em meados de agosto tenhamos grande parte destes que aderiram, dos 138, todos a funcionar.

E como é que funciona este programa? Que têm os proprietários de fazer para regularizar o seu terreno?

Em todos os municípios da zona Centro e Norte (138) estão criados balcões de atendimento físicos nas Câmaras Municipais, onde os proprietários se podem dirigir para fazer duas coisas: primeiro, saber os limites das suas propriedades ou confirmar os limites das propriedades – por isso é que nós chamamos o modelo georreferenciado, saber onde é que está a latitude e a longitude, a vectorização do seu próprio território –; em segundo lugar, preparar a base para o registo gratuito também da sua propriedade.

E, portanto, essa componente que junta pela primeira vez georreferenciar e registar é algo que nunca tinha sido feito antes e, sobretudo, numa zona que nem se sabia que cadastro é que tinha, não se sabia quem era o proprietário nem o tamanho da propriedade.

Quando um dia as oito milhões de matrizes por identificar já o estiverem, para que serve essa informação?

Essa informação é e será sempre usada. Ela é utilizada por todas as entidades públicas e privadas para gerirmos melhor o nosso território, saber que propriedade temos, onde é que estão os proprietários para poder gerir a área florestal, poder ter melhores condições na prevenção de incêndios, para que as autarquias possam também gerir melhor a sua propriedade pública e para que os proprietários consigam ter uma forma simples e fácil e pragmática de poder ter o registo e até a venda, a cessão de propriedade, a herança – portanto, todos aqueles procedimentos que, infelizmente, também por uma tradição bastante complexa da nossa burocracia foi sendo sempre muito difícil de conseguir.

Esta base de dados também vai servir para o arrendamento compulsivo de terrenos abandonados que começa no próximo dia 1?

Este programa é para os proprietários saberem onde está a sua propriedade e para poderem fazer o registo gratuitamente. Não tem outro objetivo e saber que não tem qualquer aumento de impostos.