O Parlamento Europeu está a discutir "de forma intensa" as suspeitas de corrupção de eurodeputados por uma organização pró-Moscovo, bem como a desinformação propagada online no site "Voice of Europe".
O mais recente "Russiagate" foi denunciado há dias pelo primeiro-ministro belga, que anunciou na sexta-feira, em Bruxelas, um novo inquérito sobre a alegada influência do Kremlin — Alexander De Croo denunciou uma rede de financiamento para uma "dupla operação de desinformação e ingerência", com o site "Voice of Europe" a propagar desinformação online e casos de alegada corrupção de eurodeputados por uma organização pró-Moscovo.
O chefe do Governo belga considerou que a UE precisa de "mais ferramentas" para lidar com a propaganda e desinformação, sublinhando que levará o tema ao Conselho Europeu informal, que decorre, neste momento, precisamente em Bruxelas.
Como proteger a democracia "dentro de casa"?
Vladimír Bilčík, membro da Comissão Especial sobre a Ingerência Estrangeira, garantiu esta quarta-feira, em Bruxelas, que a Europa está atenta.
Durante um seminário para jornalistas, Bilčík defendeu que, numa altura em que nos aproximamos cada vez mais das eleições europeias, o Parlamento Europeu precisa de ser "cada vez mais transparente", "especialmente na forma como conduzimos as nossas operações e como reforçamos a nossa segurança".
Bilčík defende que deve haver um "maior entendimento" sobre "quem entra e quem sai" de Bruxelas. "Esta deve ser a casa mais aberta da democracia na Europa... E é", assegura, acrescentando que é também preciso perceber quem ali está sem as melhores intenções. "Isto é especialmente importante no que diz respeito a quem cá trabalha", afirma. Neste caso, Bilčík pede que sejam feitas "as diligências devidas no processo de empregabilidade", já que a ameaça vem de dentro: este novo escândalo inclui casos de alegada corrupção de eurodeputados por uma organização pró-Moscovo.
"O caso do Russiagate levantou a questão: como é que protegemos a democracia dentro da nossa própria casa?", questiona.
Quem é que quer "mexer" nas nossas eleições?
Para além da Rússia, há outras potências estrangeiras a tentar interferir nas próximas eleições europeias, que acontecem em junho. Também a China tem de ser escrutinada, defende Bilčík, nação que tenta "sistematicamente passar uma boa imagem na Europa para influenciar o processo de decisão".
Não serão, certamente, os únicos a tentar. A ameaça também vem do Médio Oriente e de outras latitudes. "É uma luta constante".
Com a campanha eleitoral para as europeias à porta, a Comissão Especial sobre a Ingerência Estrangeira também quer travar a desinformação e, para isso, Bilčík defende que "não devíamos olhar para países em específico".
"Precisamos de ser vigilantes nas eleições europeias porque vamos ter forças anti-europeias a tentar tomar conta da narrativa, a fazer propaganda, especialmente vinda do Kremlin. Eles estão a ganhar terreno e precisamos de estar muito vigilantes. Não podemos fazê-lo de forma envergonhada, temos de fazer barulho", defende.
Quanto às plataformas, Bilčík assegura que o Regulamento dos Serviços Digitais da UE (DSA, na sigla em inglês) já começa a mostrar a sua validade, especialmente porque garante "transparência". "Durante muito tempo, as plataformas online disseram-nos que tudo estava bem, que estavam a fazer tudo o que podiam... Fizemos testes e percebemos que eles vivem numa realidade paralela e não nos diziam a verdade", desabafa.
Nesse sentido, é cada vez mais preciso obrigar as plataformas, especialmente as redes sociais, a agir, mas também a comissão "tem de agir e rápido". "Temos todos de fazer parte da solução: temos de reportar abusos cometidos online, não ignorar, porque as plataformas são obrigadas a atuar se receberem queixas", recorda.
Para Bilčík, o Regulamento dos Serviços Digitais - que veio pôr termo ao "faroeste" digital - já começa a dar frutos, mas "vai demorar alguns anos até realmente funcionar", mas o objetivo terá de ser alcançado: ter uma internet que funcione de forma "sustentável e saudável".