Os abusos de menores na Igreja Católica em Espanha vão sendo aos poucos conhecidos, revela uma investigação do jornal espanhol “El País”.
Há cerca de duas semanas, os Jesuítas reconheceram haver “81 vítimas de 65 religiosos desde 1927”. A sua "intenção é indemnizá-las".
O “El País” contactou outras 10 grandes congregações e "sete delas revelaram que também realizaram investigações ao passado ou estão em curso e concordam em indemnizar as vítimas".
Já os Irmãos Maristas, La Salle e os Agostinianos "continuam a recusar-se a rever o seu passado".
As outras sete congregações falam em "61 casos de pedófilos religiosos, 42 deles desconhecidos até agora".
A estes números somam-se os dos Jesuítas: "65 casos, 54 dos quais novos", segundo avança o jornal espanhol.
No total, sublinha, são 126 casos, "96 deles até agora desconhecidos".
Com estes números apurados pelo “El País”, o número de vítimas de abusos na Igreja em Espanha eleva-se "a mais de quinhentas".
Apesar desta situação, a Conferência Episcopal Espanhola "recusa-se a investigar o passado e a considerar indemnizações para estas vítimas".
Passados dois anos sobre a criação de uma comissão para investigar casos de pedofilia por ordem do Papa Francisco, a Igreja espanhola "quase não deu qualquer passo", avança este jornal.
O porta-voz dos bispos, Luis Arguello, apenas afirmou que as reclamações recebidas eram "zero ou muito poucas".
O jornal escreve que "a resposta das 70 dioceses espanholas foi lenta e pouco transparente. Exceto em alguns casos. Em Cartagena, Madrid, Barcelona e Bilbau, os Bispos lutam por tornar público o número de casos que chegam aos seus gabinetes. Mas a grande maioria recusa-se a investigar os casos e a indemnizar as vítimas".
Mas a indignação das vítimas não é só com a Igreja. Queixam-se que "é uma pena que o Governo não faça nada. É um assunto muito complicado e ninguém quer enfrentá-lo".
O Ministério da Justiça "deu o primeiro passo em fevereiro de 2019, em reação ao alarme social, num momento em que dezenas de casos vieram à tona". Contudo, "muito pouco" foi feito desde então.
Uma das justificações é que "a mudança de governo em janeiro de 2020 levou à transferência da jurisdição de Assuntos Religiosos para a Primeira Vice-Presidência e aí ainda não assumiram este assunto. O único avanço foi o projeto de lei de proteção ao menor que prorroga a prescrição. É uma das principais reivindicações das vítimas, mas, por outro lado, criticam que o texto não faça nenhuma referência específica ao problema concreto do abuso de menores na Igreja. A lei, em todo o caso, ainda aguarda tramitação parlamentar", refere esta investigação feita pelo jornal espanhol “El País”.