A sociedade marroquina é um exemplo de acolhimento dos cristãos e a visita do Papa servirá para dizer ao mundo que “o migrante merece mais direitos e mais respeito”, afirma o diretor da Cáritas de Marrocos, Hannes Stegemann, em entrevista à Renascença.
O Papa Francisco chega a Rabat neste sábado, para uma visita de dois dias. Na agenda, além do diálogo com o Islão, destaque para a realidade dos imigrantes africanos, aos milhares em Marrocos, com a esperança de chegarem à Europa.
Muitos acabam por permanecer em terras marroquinas e são, muitas vezes, acolhidos em paróquias e instituições da Igreja. Na primeira linha do apoio aos imigrantes está a Cáritas de Rabat, onde o Papa Francisco se vai encontrar com alguns imigrantes.
O que sente por receber o Papa?
Para nós é uma grande honra e prazer receber o Papa, é um sinal de reconhecimento pelo trabalho que a Cáritas faz, há 15 anos, pelos migrantes, em Marrocos. Mas é, sobretudo, mais uma ocasião para o Papa dizer ao mundo que o migrante merece mais direitos e mais respeito.
São muitos os imigrantes que aqui estão, em Marrocos?
Atualmente, temos cerca de 50 mil imigrantes com direito de residência e uma estimativa de mais 50 mil em situação irregular.
O que mais o preocupa, como diretor da Cáritas em Rabat?
Há uns anos, o imigrante típico, motivado por razões económicas, era masculino, entre os 25 e 35 anos. Hoje, o perfil do imigrante é diferente. São mulheres com crianças pequenas, mulheres grávidas e menores. É uma categoria que, quando chegar à Europa, não vai ser expulsa, mas até lá chegar, o sofrimento é bastante grande. Para a Cáritas local, isto não é fácil e sentimos uma certa tensão.
O que espera, pessoalmente, do encontro com o Papa? Vai falar com ele…
Vou estar à porta para lhe dizer “Seja bem-vindo!” e depois não sei se sobra muito tempo para falar com ele. O protocolo é rígido, ele vai ficar 50 minutos connosco, mas depois ninguém sabe se vai só discursar, ou se vai meter conversa com os imigrantes. Toda a gente sabe que o Papa tem as suas ideias e não respeita lá muito o protocolo. É um Papa imprevisível (risos).
[Entretanto, começam a ouvir-se, em altifalantes das mesquitas, os apelos à oração]
Esta convivência entre o islão, cuja voz do muezim estamos agora a ouvir, e os cristãos - porque muitos dos imigrantes são cristãos - resulta bem?
Sim, não há problemas, há uma boa convivência com os cristãos. Somos um pequeno grupo, entre os 25 e os 30 mil, e somos livres.
Mas não são cristãos marroquinos, são todos estrangeiros…
Sim, os que vão à igreja são europeus, já com uma certa idade, e são muitos os imigrantes. Por exemplo, das cerca de 600 pessoas que vão à catedral, 580 são subsaarianos de diferentes países e só 20 pessoas naturais de França e Espanha.