Poderá o caso Stormy Daniels impulsionar Donald Trump para uma vitória nas presidenciais do próximo ano? Ou será que a soma de polémicas em que o ex-presidente norte-americano está envolvido dá mais força à recondução de um democrata na Casa Branca?
Em declarações à Renascença, Germano Almeida, especialista em política dos Estados Unidos, vê um ex-Presidente "atolado em processos judiciais e em confusões" que "em princípio, acabarão por beneficiar os democratas".
O que, ainda assim, poderá não ser suficiente para evitar um agravamento da polarização na sociedade norte-americana: “quem o apoia vai defendê-lo ainda mais; quem não gosta dele e odeia vai odiá-lo ainda mais”.
As sondagens tornam evidente que Trump tem "um apoio muito fiel". Contudo, essa base representa “pouco mais de um terço do eleitorado". "Ou seja, dá para fazer muito barulho, pode dar até para a nomeação republicana, mas não dá para voltar a ganhar a eleição nacional."
Quanto ao caso que leva o ex-Presidente dos Estados Unidos esta terça-feira a tribunal – o alegado suborno com que Trump terá tentado silenciar uma suposta relação extraconjugal com a atriz Stormy Daniels –, Germano Almeida reconhece que "tem a gravidade que tem", mas alerta para um detalhe: "o dinheiro do suborno terá partido das contas de campanha. Isso é uma coisa mais complicada, porque tem implicações fiscais".
Ainda assim, este especialista lembra que Trump pode enfrentar situações mais graves "se for acusado de incitamento à insurreição no caso do Capitólio e se se provar que tem responsabilidade na morte dos polícias por não ter feito tudo para evitar a situação; a pressão sobre o estado da Geórgia, por causa dos resultados eleitorais, também de uma enorme gravidade, e toda a parte fiscal e dos negócios".
Vantagem? “Só na nomeação republicana”
Apesar das acusações, Donald Trump não está, por agora, impedido de ser candidato às Presidenciais do próximo ano. Nos Estados Unidos, uma pessoa acusada ou mesmo condenada por um crime pode concorrer a qualquer cargo e ser eleita.
A única exceção prevista na Constituição é a participação provada de um servidor público em "insurreição" ou "rebelião" contra os Estados Unidos.
Com o ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021, ainda sem uma decisão transitada em julgado, Trump pode ir a votos e, pelo caminho, vai enviando recados a quem o acusa, consolidando uma retórica que agrada ao Partido Republicano e que pode ser desfavorável a Ron DeSantis, governador do Estado da Florida e principal adversário de Trump para a nomeação republicana.
Em causa, segundo Germano Almeida, está o facto de o próprio DeSantis se ter colocado ao lado de Trump: "os possíveis adversários de Trump para a nomeação republicana estão a seguir essa via da vitimização".
"Perante isso, eu acho que é uma vantagem para Trump, até porque, por ironia do destino, Trump é acusado naquele que é claramente o menos grave dos processos em que está envolvido."