A ministra da Saúde, Marta Temido, não irá, em princípio, ser vacinada contra a gripe sazonal, mas vai avaliar com o seu médico de família. E é o que pede a todos os portugueses que façam, uma vez que esta vacina é um bem escasso que não será para toda a população.
Este ano, o Governo e as autoridades de saúde decidiram antecipar a administração da vacina contra a gripe para compatibilizar com uma eventual terceira dose da vacina anti-Covid para a população mais frágil. Uma mudança de estratégia que a ministra explica à Renascença, numa entrevista sobre vacinação em que volta a prometer para breve a nova norma sobre o isolamento de vacinados.
Como é que vai ser o processo de vacinação contra a gripe?
É ligeiramente diferente dos moldes habituais em vários aspetos. O primeiro aspeto é que decidimos começar esta terça-feira, antecipando ligeiramente o calendário. Tínhamos pensado começar a 4 de outubro e decidimos começar no dia 27 de setembro, na medida em que pode dar-se o cenário de precisarmos de fazer também uma administração de vacina Covid-19, uma terceira dose ao grupo populacional que também é o grupo prioritário para a gripe sazonal. Dado que não sabemos ainda se é viável uma coadministração de vacinas - no mesmo ato vacinar contra a gripe e contra a Covid-19 -, optamos por fazer esta antecipação para garantir que temos dias suficientes entre a vacina da gripe sazonal e a vacina da Covid-19 caso precisemos de fazer essa administração de uma terceira dose ao mesmo grupo e admitindo que precisamos de garantir que essa terceira dose acontece até ao final do ano de forma a que um eventual decaimento imunitário venha a acontecer com este grupo de pessoas já protegido.
O segundo aspeto é que este ano fizemos um novo reforço de quantidades a adquirir para a vacinação contra a gripe sazonal. Já há mais 140 mil doses encomendadas e temos em negociação mais 300 mil, porque as quantidades de vacinas contra a gripe sazonal que cada país pode adquirir são limitadas, mas houve outros países que desistiram da sua aquisição e Portugal optou por comprometer mais 300 mil doses de forma a garantir um eventual novo aumento de procura.
A campanha começou pela alocação de vacinas aos agrupamentos de centros de saúde para estes administrarem à população residente em lares. Não é a qualquer pessoa, não é a qualquer idoso, é à população residente em lares, que é uma população mais idosa, mais frágil e provavelmente com mais comorbidades. Estimamos que, ao longo do mês de outubro, se passe para a fase em que faremos a administração de vacinas à população elegível, designadamente aos que têm mais de 65 anos e as pessoas com comorbidades, ou seja com uma indicação, uma prescrição médica para a vacinação.
Este ano, está a ter muita preocupação em falar em população elegível e em avisar que esta vacina não é para toda a gente. Espera evitar os equívocos e a polémica do ano passado?
No final do ano passado, acabamos por ter alguma sobra de vacinas não administradas contra a gripe sazonal. Foi uma quantidade perfeitamente residual e que pode ter decorrido de termos tido, a partir de determinado momento, um crescimento dos números da Covid que levaram a que algumas pessoas não tenham procurado a vacinação contra a gripe.
Estamos a tentar ser mais claros na comunicação, sendo muito claros quanto ao universo a que se dirige a vacinação contra a gripe sazonal.
Eu, pelas minhas caraterísticas, não sou ainda elegível para a vacinação contra a gripe sazonal. Neste momento, não trabalho em ambiente hospitalar, nem em ambiente de prestação de cuidados de saúde, não tenho idade, não tenho nenhuma comorbidade, não me vacinei no ano passado, claro que vou conversar com o meu médico de família, mas imagino não me vacinar este ano também.
É isso que todas as pessoas devem fazer?
Todas as pessoas devem fazer. Essa compreensão de que as pessoas não têm todas as mesmas condições é fundamental para proteger os que precisam de mais proteção e garantir que as vacinas contra a gripe, que são um bem escasso - as vacinas contra a gripe sazonal têm de ser produzidas em cada ano de acordo com aquilo que é o vírus prevalente - para que todos utilizemos este bem comum da melhor forma possível.
Este ano, os centros de vacinação vão ser usados para a vacina contra a gripe sazonal. Já tem ideia de quantos centros vão ficar a funcionar?
Estamos a dimensionar o processo. A sua modelação dependerá também daquilo que seja a eventual confluência no tempo entre a vacinação contra a gripe e a vacinação contra a Covid-19.
Prevemos que não seja necessário manter os centros maiores. Os centros, aliás, não eram operados apenas pelo Ministério da Saúde e, portanto, há uma relação com as autarquias que também é determinante do que se pode disponibilizar às populações. O Ministério da Saúde conta sempre com as estruturas do Serviço Nacional de Saúde que administra diretamente.
Depois, precisamos de nos articular com outros parceiros que têm sido inexcedíveis na colaboração até agora, mas que são determinantes para que este processo possa continuar a correr bem.
Uma das situações que está a acontecer nalguns sítios é que os pavilhões usados para a vacinação são os mesmos que eram usados para as aulas de educação física e são necessários.
Por isso mesmo percebemos que estamos numa fase de transição em que ninguém nos perdoaria que não fizéssemos todo o esforço para maximizar a utilização dos meios, mas em que a população precisa de resposta a outras necessidades, sejam da escola, da educação física. Não queremos utilizar ou pedir espaços dos quais não venhamos a necessitar. Esta modulação ainda depende de algumas respostas.
O que falta para atingirmos os 85% de portugueses com vacinação completa? É sobretudo na faixa etária mais baixa que falta dar segundas doses. A ideia de que estava tudo a correr muito bem pode ter sido contraproducente ou está a haver algum desleixo ou outra explicação nas pessoas que estão por levar a segunda dose?
Todos sabemos, pelas nossas experiências de vida e de trabalho, que o final de um processo é normalmente mais difícil de fechar do que outras fases do mesmo processo. Aquilo que sabemos é que estamos em mais de 84% de pessoas com vacinação completa e que há pessoas que já fizeram a primeira dose de vacina e que não foram à segunda dose, nomeadamente até ao grupo etário dos 16/17 anos. Apelo a todos aqueles que falharam a sua segunda dose e que sejam elegíveis para a sua administração para se vacinarem.
O que é que está a atrasar a revisão das condições de isolamento para vacinados?
Tanto quanto é do conhecimento do Ministério da Saúde, a Direção Geral da Saúde está a ultimar a revisão de algumas normas que pretenderia libertar fazendo a coincidência com este momento do patamar dos 85% de vacinados. Penso que o trabalho estará concluído nos próximos dias, até ao final desta semana.
Ainda será esta semana? Há mais de um mês que andamos a ouvir falar na revisão desta norma.
Certo, mas fará sentido uma diferenciação da classificação de contactos de risco, relevando o estado vacinal. As pessoas, pelo facto de estarem vacinadas, não estão todas nas mesmas condições, não têm todas o mesmo contexto, a mesma situação de saúde e isso tem de ser ponderado. Imagino que não possa ser uma medida única, tenha de ter em vista, por exemplo, o local de residência, como será o caso de pessoas em estruturas residenciais para idosos.
Sei que a DGS está a ultimar estas análises técnicas que são complexas e que conta publicá-las até ao final desta semana, sendo que o final da semana é ao domingo.
Chegados a esta fase de vacinação, sente algum alívio da pressão Covid e, portanto, está mais disponível para se dedicar a outras questões como o Orçamento do Estado e as reestruturações que sejam necessárias no setor da Saúde?
Procuramos sempre dar resposta às necessidades. Naturalmente, uma emergência de saúde pública internacional é, como o nome indica, uma emergência de saúde pública internacional, mas todos desejamos regressar à normalidade possível, sendo que não podemos baixar a guarda. Face ao que são os sucessos conseguidos pelos portugueses em relação à campanha de vacinação contra a Covid-19 desejamos aproveitar essa oportunidade, alocando meios e esforços e as nossas energias em termos políticos a áreas às quais queremos continuar a responder. É isso que temos todos a expectativa de fazer cada vez melhor, nunca baixando a guarda.