Para o próximo mês a única dúvida é saber em quanto vai o Banco Central Europeu (BCE) subir os juros. No Fórum que decorre em Sintra, vários responsáveis já confirmaram novo aumento, a começar pela presidente da autoridade monetária.
A pergunta agora é se estas subidas s vão manter em setembro, na reunião seguinte. Questionada esta tarde, Christine Lagarde diz que nada está ainda decidido.
"Isso não lhe vou dizer e por uma razão muito simples, que já referi, dependemos da informação disponível e decidimos reunião a reunião. Em setembro vamos receber novos dados e os nossos técnicos vão preparar novas projeções, haverá muito em cima da mesa para tomar uma decisão", afirmou a presidente do BCE, que participa num painel juntamente com os responsáveis pelos bancos centrais dos Estados Unidos, do Reino unido e do Japão.
Apesar da pausa decidida este mês nos Estados Unidos, que o presidente da Reserva Federal norte-americana chama de “manutenção dos atuais níveis”, Jerome Powell diz que há mais subidas a caminho.
“Embora a política seja restritiva, ainda não terá sido suficiente nem por tempo suficiente”, afirma Jerome Powell.
Na mesma linha seguem as indicações do governador do Banco de Inglaterra, Andrew Bailey.
Quando regressa a inflação aos 2%?
A pergunta é clara, mas as respostas nem tanto, até porque os bancos centrais são conhecidos por serem cautelosos.
Christine Lagarde limita-se às últimas previsões, que apontam para uma inflação de 3% dentro de um ano nos países do euro.
Já o presidente da autoridade britânica, Andrew Bailey, confia que atingirá o objetivo no final de 2024.
Mais pessimista, Jerome Powell diz que os Estados Unidos só chegam a uma inflação de 2% em 2025.
Fora de toda esta discussão está o Japão, que espera uma inflação de 1,8% este ano e, por isso, mantém o nível de juros. Ainda assim, o novo presidente do Banco Central admite que os preços podem aumentar em 2024.
Bancos centrais rejeitam alterar objetivo
A discussão tem ganho adeptos, à medida que aumentam as dificuldades para famílias e empresas com a subida dos juros: deve o objetivo de uma inflação de 2% ser ajustado?
A ideia é rejeitada pelos responsáveis pelas maiores autoridades monetárias do mundo, esta quarta-feira, em Sintra.
A presidente do BCE lembra que neste momento são precisas ações, não palavras.
“Nesta altura, e dada a luta que lideramos contra a inflação, não acredito que algum de nós considere alterar a meta, a mais de meio do caminho. Neste momento devemos ser tão persistentes como a inflação e resolutos, decisivos e determinados. Não andar a discutir o objectivo”, afirma Lagarde.
Andrew Bailey, presidente do Banco de Inglaterra, lembra que os 2% determinam o que é considerada a estabilidade de preços. O valor não foi fixado aleatoriamente e nada mudou, por isso discutir o alargamento do objetivo “não é o mais acertado”.
O Japão, que está com níveis de inflação inferiores, é obviamente o menos interessado em alargar estes objetivos. Até há pouco tempo, ainda tinha como alvo uma inflação zero.
Os riscos: da guerra à banca
O responsável pelo banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, lembrou que as decisões de política monetária devem estar sempre em equilíbrio, não podem avançar depressa demais mas também não podem deixar de agir.
Estão sempre a decidir num cenário de riscos. Atualmente, por exemplo, a incerteza mantém-se elevada, o risco geopolítico é grande com a instabilidade na Rússia. Lagarde admite que tem impacto na economia e nos preços e estão atentos.
“Só podemos dizer que neste momento a incerteza é elevada, no geral, e estamos atentos… ainda está por determinar se irá causar inflação ou deflação.”
Outro risco para as economias é a estabilidade dos bancos. Christine Lagarde garante que a banca da zona euro está sólida e capitalizada. Sublinha ainda que não fala em nome dos bancos suíços.
Pelos Estados Unidos, Powell defendeu as vantagens de ter bancos de diferentes dimensões no país. Garante que os maiores são resistentes e estão bem capitalizados.
A preocupação do mercado é sobretudo com os regionais, depois das recentes falências, e com os mais pequenos, devido às alterações que estão em preparação, mas o responsável pela FED diz que “qualquer mudança deve preservar os bancos pequenos”.
O Fórum anual do BCE decorre em Sintra desde segunda feira, os trabalhos encerram esta noite num jantar oferecido pelo Banco de Portugal.
Euro digital será lançado sem falsas partidas
No dia em que Bruxelas apresentou uma proposta legislativa para o euro digital, Christine Lagarde lembrou que ainda não há uma decisão final sobre um euro virtual. Só será tomada em outubro mas, se avançar, será de uma só vez:
“Ainda não decidimos, mas, pelo menos, já temos uma proposta legislativa na mesa. Haverá muita discussão. A decisão é dos governadores, no conselho de governadores, do final de outubro. Depois haverá uma nova fase piloto, de experimentação, porque se e quando avançarmos, queremos fazê-lo bem. Não haverá falsas partidas ou por fases, avançaremos com sucesso”, sublinha.
A presidente do BCE rejeita ainda críticas sobre eventuais riscos à estabilidade financeira. Segundo Lagarde, é importante que o BCE se prepare: “Há alguns anos, quem conseguia imaginar o que podemos fazer hoje com o telemóvel? Nenhum de nós. Estar preparados, estar prontos, prestar atenção ao que os europeus, sobretudo os jovens, querem da moeda é o que temos estado a fazer, de forma acelerada”.
[notícia atualizada]