"O que é que nos distingue deles?". Foi uma das perguntas de Pedro Nuno Santos à plateia de socialistas no Fórum Machico, na Madeira, na noite desta terça-feira. Na única ação de campanha no arquipélago, o secretário-geral do PS definiu a fronteira entre o bloco de direita e o partido que lidera.
"Uma das grandes diferenças também entre nós e eles é a humildade e a empatia", atirou Pedro Nuno Santos no comício do Machico. Não é que o líder do PS recuse dizer as siglas "AD" ou "PSD" ou "IL". Diz, até várias vezes, mas multiplica-se numa linguagem de "nós" e "eles".
Esquecendo o discurso de Pedro Passos Coelho na noite anterior e, sobretudo, passando ao lado da polémica em torno das declarações do ex-líder do PSD sobre insegurança e imigrantes, o líder socialista concentrou as críticas na direita em geral e no PSD em particular.
"Nós temos empatia, é isso que faz de nós melhores governantes do que eles", atirou Pedro Nuno Santos. "Empatia", por exemplo, com os pensionistas, garante o líder do PS. E aqui criticou a vontade assumida de Luís Montenegro de "reconciliar-se" com esta faixa do eleitorado.
"Eles falam em reconciliar-se com os mais velhos. Eles sabem bem porque é que têm de se reconciliar com os mais velhos, porque foi exatamente a parte do povo português mais maltratado durante os seus governos", argumentou Pedro Nuno Santos, acrescentando que "eles não são credíveis".
É ao governo de Pedro Passos Coelho de 2011 a 2015 que Pedro Nuno Santos se refere, mas é a Luís Montenegro que o líder socialista quer atingir. Chama-lhe "o meu principal adversário" e critica-lhe o "choque fiscal", enquanto propõe, por oposição, o "choque salarial".
É a versão de Pedro Nuno Santos do "vem aí o diabo" por oposição ao "orgulho na governação" dos últimos oito anos com o PS.
Também o nome de António Costa praticamente não foi referido pelo líder socialista. Aliás, no comício da Madeira ficaram várias críticas implícitas ao caminho do antecessor: "Está tudo bem? Não, não está? Estamos satisfeitos? Não estamos", admite. Ou ainda a assunção de que "há coisas que não fizemos e que devíamos ter feito".
No fundo, é o PS de Pedro Nuno Santos, o que corta com o PS de António Costa, contra o universo da direita, onde inclui a AD, a Iniciativa Liberal ou o Chega. "As soluções não estão no PSD nem nos seus parceiros".
Pedro Nuno Santos deu exemplos dessas diferenças de solução. O "choque fiscal" proposto por Montenegro que o líder socialista classifica como "ineficaz". Porque, justifica o líder do PS, "cerca de 40% das empresas nem sequer pagam IRC" e a medida "não atinge uma grande parte" do setor empresarial português.
A "aventura fiscal" do PSD, segundo Pedro Nuno Santos, contra o "choque salarial" proposto pelo PS. Com o líder socialista a desvalorizar Montenegro que acusa de não ter "ambição nenhuma" e de só ter "a ambição para os de cima, para as grandes empresas, não para quem trabalha, nem para a classe média".
Montenegro, sempre Montenegro, também nas críticas de Pedro Nuno Santos ao presidente do Governo regional da Madeira.
"Luís Montenegro disse que faria diferente de Miguel Albuquerque se pudesse, quando este anunciou que seria recandidato. Mas o PSD tem um líder. Se Luís Montenegro acha que Miguel Albuquerque devia fazer o mesmo que António Costa e não se devia recandidatar, tem bom remédio: não passa a procuração. É que, para qualquer candidato, para ser candidato, na Madeira, precisa de procuração do líder do partido".
Foi, de resto, a única vez, no discurso de pouco mais de vinte minutos, que Pedro Nuno Santos se referiu claramente ao primeiro-ministro demissionário e ex-líder do PS.