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É difícil saber, por estes dias, o que “mais assusta a população brasileira que hoje ainda preserva um mínimo de bom senso”: se o coronavírus, ou “o comportamento bizarro e egocêntrico do Presidente Bolsonaro”. As palavras são do padre português Alfredo Gonçalves, que está no Brasil há mais de 50 anos, critica de forma veemente o comportamento do Presidente Jair Bolsonaro na gestão da crise provocada pela Covid-19.
Nas palavras do sacerdote missionário scalabriano, uma congregação que se dedica ao trabalho com as migrações, e assessor para a mobilidade humana da Conferência Episcopal Brasileira, o Presidente brasileiro está a “agir na contramão das orientações da Organização Mundial de Saúde, dos especialistas em infeciologia e de seu próprio governo”.
Num texto partilhado com a Renascença, o padre Alfredo Gonçalves diz que “temos o vírus Covid-19, devidamente coroado mas ameaçador, depois, vem o vírus da crise socioeconómica e, por fim, o vírus de uma atitude desdenhosa e debochada por parte de quem, no combate ao inimigo invisível, deveria estar à frente do comando e, em lugar disso, fala de histeria, procurando criar, cultivar e incentivar, direta ou indiretamente, uma inimizade visível contra os poderes democráticos instituídos”.
E o sacerdote pergunta se “são três vírus ou um vírus de três cabeças?” Para concluir que são “três vírus que se fundem em um só: o vírus de um modo de produção neoliberal que, movido pelo lucro e a acumulação de capital, extrai e explora até a última gota de seiva, de suor e de sangue tanto os bens que a natureza nos proporciona, quanto a mão-de-obra humana”.
Na mesma linha, o padre Joaquim Fonseca, missionário comboniano português em missão em Santa Rita, na periferia de Paraíba, diz que a população está confusa face à contradição entre o que dizem as autoridades de saúde e aquele que é o pensamento do Presidente brasileiro.
Para o sacerdote, “Jair Bolsonaro é que parece que apanhou um vírus diferente na cabeça e a vida das pessoas, para ele, parece que não conta muito”.
No ponto de vista do padre Joaquim Fonseca, Bolsonaro aparenta desprezar “aquilo que diz a Organização Mundial de Saúde, e aquilo que dizem os próprios médicos aqui no Brasil".
A Conferência Episcopal Brasileira já criticou "as vozes imprudentes que vão contra as orientações da Organização Mundial de Saúde" no caso da Covid -19.
Os bispos brasileiros juntaram o seu protesto contra o Presidente Jair Bolsonaro a um conjunto de entidades como a academia brasileira de ciências, e a associação brasileira de imprensa para o progresso e ciência.
Na nota alertam para "o perigo da desinformação que parte do próprio poder público", sendo "uma grave ameaça à saúde de todos os brasileiros”.
O Brasil tem, até agora, 167 mortos e 4.681 casos confirmados de Covid-19.