O presidente russo, Vladimir Putin, recebeu, esta quarta-feira, em Moscovo o seu homólogo sírio, Bashar al-Assad, num momento em que o Kremlin acentua os esforços para reconciliar a Turquia e a Síria e afirmar o seu peso diplomático.
Os esforços coincidem com uma importante recomposição do cenário diplomático no Médio Oriente através do restabelecimento, patrocinado por Pequim, das relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita.
Para o Kremlin, o objetivo de promover a reconciliação entre a Turquia e a Síria, quase inexistente desde 2011, permitiria afirmar o peso diplomático de Moscovo, apesar do seu isolamento no Ocidente desde a ofensiva militar na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
O encontro entre Putin e Assad iniciou-se às 14h00 (hora de Lisboa), de acordo com as imagens transmitidas pela televisão russa. Diversos ministros participaram na reunião, que foi seguida de um encontro a sós entre os dois dirigentes.
"Estamos em contacto permanente e as nossas relações desenvolvem-se", declarou Putin no início da reunião, congratulando-se com os "resultados importantes" obtidos por Moscovo e Damasco no "combate contra o terrorismo internacional".
Por seu turno, Assad exprimiu o seu apoio à ofensiva militar conduzida por Moscovo na Ucrânia, e disse esperar que a sua visita assinale "uma nova etapa nas relações sírio-russas".
Depois do sismo, um degelo das relações bilaterais
O processo de reconciliação entre Ancara e Damasco, que a Rússia procura acelerar, deverá ser um dos principais assuntos deste encontro, designadamente através de uma eventual cimeira entre Assad e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
"As relações entre a Turquia e a Síria vão decerto ser afetadas de uma forma ou de outra" pelas discussões entre Putin e Assad, declarou, esta quarta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
No poder desde o início da década de 2000, Erdogan e Assad desenvolveram inicialmente relações cordiais, após décadas de tensões entre os dois países.
Mas no conflito civil na Síria, que desde 2011 provocou mais de 500 mil mortos e milhões de refugiados e deslocados, Ancara optou por apoiar grupos rebeldes que procuram derrubar o regime sírio, apoiado por Moscovo e Teerão.
Apesar dos seus interesses divergentes na Síria e da integração da Turquia na NATO, Putin e Erdogan cooperaram de forma estreita nos últimos anos, um fator que explica o envolvimento de Moscovo na tentativa de reconciliação turco-síria.
Neste contexto, diplomatas da Rússia, Turquia, Síria e Irão deverão reunir-se esta semana em Moscovo para preparar um encontro entre os seus ministros dos Negócios Estrangeiros, antes de uma eventual cimeira presidencial.
Os ministros da Defesa turco e sírio tinham já promovido no final de dezembro um encontro em Moscovo com o homólogo russo, o primeiro desde 2011.
Nos últimos meses, Erdogan tem revelado disponibilidade para manter um encontro com Assad, de forma a promover um degelo das relações bilaterais.
"O rancor e o ressentimento não existem em política", declarou em novembro o líder turco.
No entanto, diversas questões complexas continuam por solucionar, em particular a presença militar turca no norte da Síria, onde Ancara promove diversas incursões desde 2016, em particular contra os grupos curdos locais.
A reaproximação poderá ser também favorecida pelos sismos que atingiram a 6 de fevereiro a Turquia e a Síria, com um balanço de mais de 50 mil mortos, uma tragédia que permitiu a Damasco aliviar em parte o seu isolamento diplomático.
Erdogan e Assad também partilham uma hostilidade face aos grupos curdos que controlam o nordeste da Síria, e que têm sido apoiados pelos ocidentais contra o grupo 'jihadista' Estado Islâmico.
Damasco também denunciou com firmeza a visita no início de março do chefe do Estado-Maior norte-americano ao nordeste sírio controlado pelas forças curdas.
No encontro desta quarta-feira em Moscovo, Assad também aproveitou para manifestar o apoio do seu país a Moscovo na luta contra o "nazismo antigo e novo" na Ucrânia.
"Quero aproveitar a visita, a primeira desde o início da guerra na Ucrânia, para reiterar a posição síria [de apoio à Rússia] nesta guerra contra o nazismo antigo-novo", disse o presidente sírio na reunião com Putin, citado pelas agências internacionais.
"Este nazismo foi criado pelo Ocidente antes da Segunda Guerra Mundial, que acolheu os seus líderes depois da guerra a continua a fazê-lo até agora", reforçou.
Assad defendeu ainda a necessidade de o mundo "recuperar o equilíbrio", e agradeceu a Putin a ajuda prestada por Moscovo na sequência dos devastadores sismos de 6 de fevereiro.
Segundo fontes oficiais, a Rússia enviou mais de 20 toneladas de ajuda humanitária à Síria, em particular alimentos e cobertores.