Amândio Marques, coronel da GNR e ex-director de Direção de Investigação Criminal da GNR, é ouvido esta segunda-feira no tribunal de Monsanto. No processo de Tancos, está acusado de vários crimes ligados à operação de encenação para a recuperação de armamento.
Desde o início que reclama estar inocente e deverá voltar a dizê-lo nesta segunda-feira, perante o juiz Carlos Alexandre, que nunca soube de qualquer encenação e que até denunciou as suspeitas sobre a história mal contada.
A acusação diz que o coronel “incentivou os subordinados” da Guarda com vista a obterem o “reconhecimento” pela recuperação das armas.
Está acusado dos “crimes de associação criminosa, falsificação de documento e denegação de justiça”. Terá autorizado a operação dos elementos da GNR em apoio à Polícia Judiciária militar, dando aval às saídas dos militares da zona do Algarve sempre que fosse necessário.
Só que nada disto confirma o arguido. A defesa do oficial da GNR refere que, depois de aparecerem as armas, Amândio Marques não acreditou na versão que lhe foi contada e mandou elaborar um relatório com os procedimentos da recuperação que entregou depois a Luís Neves, atual diretor da PJ.
Refere ainda que reuniu com os procuradores do DCIAP , titulares do inquérito para transmitir as suas desconfianças e dúvidas. Ora se denunciou como poderia ser conivente? pergunta o arguido que pede agora a não pronuncia dos crimes de que é acusado.
À saída da audiência, Lúcia Dias, advogada de Amândio Marques, voltou a dizer que o seu cliente está inocente e que nada sabia.
“Não houve qualquer pacto de silêncio, não houve qualquer conhecimento dos factos e não há prova minimamente que a sustente”, garantiu aos jornalistas.
Quanto a Taciano Correia, disse ao juiz que Luís Vieira, diretor da PJM na altura, lhe ligou a pedir a colaboração da GNR para recuperar as armas de Tancos – operação que autorizou.
O caso de Tancos envolve 23 acusados, incluindo Azeredo Lopes, ex-ministro da Defesa do primeiro Governo de António Costa e que se demitiu na sequência do caso, Luís Vieira, o ex-porta-voz da instituição militar Vasco Brazão e vários militares da GNR, que estão acusados de um conjunto de crimes que vão desde terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça e prevaricação até falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.
O furto de armamento de guerra dos paióis de Tancos, Santarém, foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017, com a indicação de que ocorrera no dia anterior.
A recuperação de material furtado de Tancos ocorreu na região da Chamusca, também no distrito de Santarém, em outubro de 2017, numa operação que envolveu a PJM, em colaboração com elementos da GNR de Loulé.
[Notícia atualizada às 13h45, com declarações da advogada de Amândio Marques]