Por estes dias, são muitos os espanhóis que atravessam a fronteira para comprar, do lado português, testes de antigénio e outro material de proteção individual (como, por exemplo, máscaras).
A deslocação faz sentido, atendendo a que, em Espanha, os autotestes custam entre 7 e 10 euros e são vendidos apenas em farmácias, enquanto em Portugal, o mesmo produto, isento de IVA, pode ser encontrado também nos supermercados e a preços reduzidos, a partir de 2,40 euros (o preço mais baixo que a reportagem da Renascença encontrou).
Não sendo o motivo principal para uma deslocação a Portugal, a verdade é que muitos espanhóis, até em gozo de férias, incluem no seu roteiro, além de um passeio e de uma generosa refeição, uma ida ao supermercado.
Conchi, a jovem manchega que encontrámos nas compras num centro comercial de Badajoz, trabalha na área da saúde e admite que “para cumprir compromissos, caso seja mesmo necessário”, passar a fronteira para adquirir este género de material “é uma possibilidade.”
Por ser profissional do setor, não paga pelos autotestes ao vírus SARS-CoV-2 no seu país, por isso não está por dentro dos preços praticados no mercado, mas conhece quem, na zona da raia, opte por fazer estas compras em Portugal. Já quanto às máscaras, reconhece que a poupança numa embalagem com várias dezenas de unidades pode chegar aos três euros.
“Quanto aos testes não lhe sei dizer, pois sou sanitária e temo-los gratuitos. Quanto às máscaras, aqui, em média, um ‘pack’ pode custar entre 8 e 9 euros. Em Portugal, podemos encontrar a mesma embalagem dois, três euros mais baratos”, assegura.
Mas, produtos mais baratos, pode também significar menor qualidade. “Imagino que por se venderem nas grandes superfícies comerciais é mais barato, mas possivelmente a qualidade também é menor”, reflete Conchi. “Em Espanha, acabamos por encontrar produtos mais caros, mas de melhor qualidade, característica que não encontramos em Portugal”, observa.
Com mais ou menos qualidade, a verdade é que os preços mais atrativos do lado português são um chamariz para “nuestros hermanos”.
Situação que Xavier, proveniente do País Basco e de férias pela Extremadura espanhola, aplaude. “A vossa politica, nesta matéria, é muito melhor que a de Espanha. Nisso, ganharam-nos”, admite.
Xavier recorda o tempo em que “o escudo era mais barato”, levando muitos espanhóis a terras lusas. “Com a entrada no euro, as coisas mudaram”, afirma, e “agora somos nós que encontramos, em Espanha, muitos portugueses.”
São, efetivamente, muitos os portugueses que continuam a fazer as suas compras no país vizinho, onde se inclui uma passagem pelas farmácias, não para adquirir máscaras ou testes antigénio, mas alguns medicamentos como antipiréticos ou anti-inflamatórios que, sem receita médica, são vendidos por metade do preço praticado em Portugal.
E, no programa da “romaria” ao país vizinho, não há nenhum português que saia de Espanha sem atestar o depósito da sua viatura. Afinal, sempre são menos 30 cêntimos por litro.