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Entrar em guerra com a Coreia do Norte para travar as suas intenções bélicas (construir um míssil nuclear) teria “custos tão horríveis que era melhor não pensarmos nisso”.
Quem o diz é Nuno Rogeiro, especialista em Relações Internacionais, recordando o que o próprio Secretário de Defesa norte-americano afirmou: uma eventual guerra contra a Coreia do Norte seria a pior “em termos de sofrimento humano” desde 1953, ano em que um armistício paralisou o país de Kim Jong-un.
O general James Mattis não tem dúvidas de que os Estados Unidos venceriam, mas ressalva que seria “uma guerra mais séria em termos de sofrimento humano do que tudo o que vimos desde 1953”.
“Entre esses custos horríveis estaria a destruição de cidades onde moram dezenas de milhões de pessoas”, explica Nuno Rogeiro, em declarações à Renascença.
A solução é, pois, política, defende. Neste campo, já foram tentadas quase todas as soluções, menos uma: o corte total de relações entre Pequim e Pyongyang.
Até hoje, “a China tem tentado pressionado politicamente Pyongyang a não realizar mais testes”, mas ainda não tomou “a decisão drástica de cortar relações diplomáticas e boicotar economicamente o regime da Coreia do Norte”, afirma Nuno Rogeiro.
E existe uma razão para isso. É que se a China cortasse relações, “a Coreia do Norte morreria à fome ou haveria uma insurreição interna e a China também não quer fazer isso, porque não quer ter à sua porta milhões de pessoas a fugir, que engrossarão o problema fronteiriço, que já é grave”.
"Algumas cidades da China na fronteira com a Coreia do Norte já têm cartazes onde se pede que os cidadãos não alberguem fugitivos – e os fugitivos são da Coreia do Norte”, diz.
Assim sendo, está nas mãos da China a solução para o problema da Coreia do Norte, que tem aumentado, nos últimos meses, o número de testes com mísseis balísticos e cujo objectivo é construir mísseis nucleares.
Os Estados Unidos têm pressionado Pequim nesse sentido – aliás, no "tweet" de resposta ao mais recente teste de um míssil, Donald Trump instou a China a reagir. Os dois países têm a Coreia do Norte como ameaça e as relações entre Trump e Xi Jinping têm, por isso, sido mais estreitas do que se antevia durante a campanha eleitoral norte-americana.
“Agora, os EUA estão impacientes e têm dito à China que ela tem de fazer mais e mais depressa”, refere Nuno Rogeiro. “Imagino que, se a este teste se somar aquilo que é uma coisa que foi considerada uma linha vermelha e que é um novo teste nuclear, provavelmente as coisas na China irão mudar radicalmente. E se não mudarem, os Estados Unidos ficam obrigados, no fundo, a uma forma de pressão militar maior, o que não é bom para ninguém”, afirma.
O último teste de um míssil (que Pyongyang diz ser intercontinental) foi feito na madrugada desta terça-feira e confirmado umas horas depois. Foi o 11º este ano.
O último ensaio tinha sido feito em 8 de Junho e, na semana passada (29 e 30 de Junho), o Presidente norte-americano recebeu o seu homólogo sul-coreano, Moon Jae-in, recém-empossado, para conversar sobre o regime norte-coreano.
Do míssil "hipotético" ao "infalível"
Estes testes servem para quê? Para tornar realidade aquilo que ainda é hipotético, diz o especialista em Relações Internacionais.
“A Coreia do Norte tem tido sucesso no uso de mísseis que sabemos que já existem – os chamados de curtíssimo, curto e médio alcance, que são essencialmente mísseis com interesse para conflitos imediatos, fronteiriços. A grande dúvida é o que acontece com os chamados mísseis de médio alcance, alcance intermédio e longo alcance”, começa por explicar.
Sabendo que Pyongyang quer desenvolver os mísseis de maior alcance e até nucleares, os testes que vai realizando servem para “saber se se mantém a sua altura, a sua velocidade, se responde ao comando, no caso de ser guiado, ou às direcções iniciais, no caso de ser balístico, e todos estes testes servem precisamente para tornar um míssil de hipotético a infalível”.
Por essa razão, “cada teste é obviamente uma razão de preocupação e é por isso que os Estados Unidos, mas também países vizinhos como a China e a Rússia, olham para isto com grande preocupação”.
Segundo a televisão estatal norte-coreana, o míssil testado esta terça-feira (o “Hwasong-14”), cujo lançamento foi supervisionado pelo próprio Kim Jong-un, pode atingir qualquer local do mundo.
Foi a primeira vez que a Coreia do Norte afirma ter lançado um míssil intercontinental com sucesso.
Em Maio, Pyongyang anunciou ter disparado um míssil um novo modelo de míssil de "médio e longo alcance" e assumiu pretender construir um míssil capaz de transportar uma "ogiva poderosa" e alcançar bases americanas no Pacífico.
O teste foi alvo de críticas por toda a comunidade internacional e do Conselho de Segurança da ONU, que considerou de vital importância a demonstração, por parte da Coreia do Norte, de um “sincero empenho na desnuclearização” com “medidas concretas”.
Os cinco países mais poderosos das Nações Unidas pediram ainda ao regime norte-coreano que trabalhasse para reduzir a tensão na região.
Em Abril, o Papa Francisco
considerou que
a ONU “não tem estado à
altura” da sua missão
. Destacando que a
solução para a questão da Coreia reside na negociação e na diplomacia,
Francisco apelou à ONU que retomasse “a sua liderança”.