José Veiga e Paulo Santana Lopes detidos
03-02-2016 - 12:58
 • Celso Paiva Sol

Empresário conhecido pelas suas ligações ao futebol e irmão de ex-primeiro-ministro detidos numa operação da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ.

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José Veiga, ex-director da SAD do Benfica e empresário da banca e outros sectores, e Paulo Santana Lopes, irmão do antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, foram detidos esta quarta-feira por suspeitas de vários crimes.

Em comunicado, sem nomear os detidos, a Polícia Judiciária informa que, no âmbito da operação "Rota do Atlântico", deteve três pessoas por corrupção no comércio internacional, branqueamento de capitais, tráfico de influências, participação económica em negócio e fraude fiscal.

A Renascença apurou que José Veiga e Paulo Santana Lopes estão entre os detidos. O outro detido é uma advogada que trabalhava com ambos.

No decurso da operação, que ocorreu esta quarta-feira nas zonas de Lisboa, Braga e Fátima, foram realizadas 35 buscas, tendo estado envolvidos cerca de 120 elementos da PJ e dez magistrados. Em comunicado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informa que as buscas foram feitas a domicílios e sedes de empresas, mas também a uma instituição bancária e a três escritórios de advogados.

“Os detidos actuavam no âmbito da celebração de contratos de fornecimentos de bens e serviços, relacionados com obras públicas, construção civil e venda de produtos petrolíferos, entre diversas entidades privadas e estatais. Os proventos gerados com esta actividade eram utilizados na aquisição de imóveis, veículos de gama alta, sociedades não residentes e outros negócios, utilizando para o efeito pessoas com conhecimentos especiais e colocadas em lugares privilegiados, ocultando a origem do dinheiro e integrando-o na actividade económica licita", informa a PJ.

“A investigação tem dimensão internacional, apresentando ligações com os continentes europeu, africano e americano”, diz a Procuradoria. A Renascença apurou que o Congo – onde, segundo o "Diário de Notícias", José Veiga vive desde 2009 – está entre os países por onde passava o alegado esquema de corrupção.

Segundo a PGR, estão também “indiciadas suspeitas da prática dos crimes de tráfico de influência e de participação económica em negócio na compra e venda de acções de uma instituição financeira estrangeira, acções, essas, detidas por instituição de crédito nacional”, diz a nota da PGR. “Investiga-se, igualmente, a origem de fundos movimentados noutros negócios em que são intervenientes os suspeitos, nomeadamente, a celebração de contratos de fornecimento de bens e serviços, obras públicas e venda de produtos petrolíferos."

As detenções foram feitas pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ, no âmbito de um inquérito dirigido pelo Ministério Público – DCIAP, no âmbito de uma investigação iniciada no final do ano de 2014.

Foram apreendidos vários imóveis, veículos automóveis de gama alta e saldos bancários.

Os detidos vão ser sujeitos a um primeiro interrogatório judicial para eventual aplicação de medidas de coacção.

Veiga com muitos negócios em África

Segundo o “Diário de Notícias”, num artigo publicado a 20 de Janeiro, Veiga vive desde 2009 no Congo. Tem residência fiscal desde 2011 e passa naquele país africano mais de seis meses por ano.

Além do Congo, o empresário tem negócios em Cabo Verde, Guiné Equatorial, Benim, Nigéria, Costa do Marfim, Togo e Guiné-Conacri. Nestes negócios, Veiga emprega cerca de 6 mil pessoas, entre as quais cerca de 1.500 portugueses (entre contratos directos e indirectos).

As áreas de negócio em que actua vão desde a banca à saúde ou exploração de recursos naturais, mas também a indústria, energia, distribuição de água e imobiliário.

Actualmente, ainda segundo o “Diário de Notícias”, liderava um projecto de construção de 12 hospitais centrais, um por região, e um outro de implementação de seis mil furos de água, ambos no Congo.

O homem que já agenciou nomes como Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma ou Luís Figo, e que foi director do futebol do Benfica voltou a ser notícia por liderar um grupo luso-africano que apresentou uma proposta para a compra do Banco Internacional de Cabo Verde (BICV), um activo não-estratégico do Novo Banco, avaliado em 14 milhões de euros.

Paulo Santana Lopes foi administrador da sociedade imobiliária Tetris.

[Notícia actualizada às 14h03 com informações que constam de um comunicado da PGR]