O primeiro-ministro português considerou esta sexta-feira que a “nova guerra”, desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel, veio agravar um contexto global, já de si “muito agreste”, defendendo que se deve reagir com “cabeça fria, mas com confiança”.
No concelho de Guimarães, distrito de Braga, durante a visita a uma empresa têxtil, António Costa lembrou a pandemia da covid-19, seguida da invasão da Ucrânia pela Rússia, sublinhando que, na sequência de ambas, houve “uma rotura muito grande nas cadeias de abastecimento, que deu um primeiro grande contributo para a subida dos custos das matérias primas”.
Num segundo momento, acrescentou, também fruto da invasão da Ucrânia pela Rússia, houve uma crise energética “que fez subir muito o custo da energia à escala global”, assim como houve “dificuldades crescentes” quanto “à mobilização de recursos humanos para responder ao acréscimo de procura que surgiu a seguir à pandemia”.
“Estes fenómenos, todos eles, implicaram inflação, a inflação levou a uma resposta muito dura do Banco Central Europeu com a subida das taxas de juro, criando um contexto, todo ele, muito agreste. A nova guerra, que rebentou a semana passada com os atentados terroristas do Hamas em Israel, só vem agravar este contexto global. Perante este contexto, temos de reagir com cabeça fria, mas com confiança naquilo que são as capacidades que conhecemos ter para reagir a estas situações adversas”, frisou o primeiro-ministro.
António Costa salientou que, após a pandemia da covid-19, a reação do tecido económico nacional “tem sido verdadeiramente impressionante” na sua capacidade de investimento.
“Em 2022, as empresas portuguesas investiram no seu conjunto 32 mil milhões de euros, mais do que a totalidade da verba que existe no PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] para todas as suas finalidades. Foi o ano de maior de investimento empresarial no nosso país. E até junho deste ano, o investimento empresarial já tinha ultrapassado aquilo que tinha acontecido no primeiro semestre de 2022”, afirmou o primeiro-ministro, no seu discurso.
O chefe de Governo admitiu que se tem vivido “talvez um excesso de momentos desafiantes”, mas vincou que o mais importante é “travar a luta” e enfrentar os constantes desafios.
“Isso implica continuar a investir na modernização, continuar a investir em maior sustentabilidade na produção de energia, continuar a investir em maior sustentabilidade na circularidade das matérias primas, continuar a investir na capacidade de inovar, porque é essa capacidade que faz com que, do mesmo chão de fábrica, aquilo que hoje daqui sai, seguramente nada tem a ver com o que daqui saía há 20 ou há 30 anos”, declarou António Costa.
O primeiro-ministro apresentou alguns números para evidenciar a importância do setor têxtil na economia nacional.
“O setor do têxtil representa 22% das empresas da indústria transformadora, 23% do emprego na indústria transformadora e representou no ano passado cerca de sete mil milhões de euros de volume de negócios. É uma indústria hoje fortemente exportadora. E essa capacidade de competitividade assenta basicamente num grande investimento em inovação e na capacidade de adaptação em contextos que são, muitas vezes, desafiantes”, defendeu o chefe do Governo.
O primeiro-ministro esteve presente na inauguração de uma nova unidade da Têxteis J.F. Almeida, S.A, um investimento de 15 milhões de euros e que permitiu a criação de 45 novos postos de trabalho.
A empresa, instalada no concelho de Guimarães, tem cerca de quatro décadas e, atualmente, exporta 95% da sua produção.
Cerca de uma dezena de manifestantes, ligados ao setor da Educação, estiveram presentes na parte de fora da empresa, entoando a palavra “demissão”.