“É uma obra que nos interpela”, diz Isabel Carlos. A curadora da exposição “Hello! Are You There?” apresenta, pela primeira vez, uma retrospetiva da obra da artista Luísa Cunha, que venceu em 2021 o Prémio da Fundação EDP Arte, e considera que “não podemos ficar indiferentes” perante o trabalho da artista.
Ao longo das salas da Central Tejo, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), são apresentados trabalhos das últimas três décadas.
“A peça mais antiga é de 1994 e a mais recente é de 2023. O que acho surpreendente, sendo a exposição mais ampla, e maior que até hoje a Luísa Cunha teve, é a variedade de suportes que ela foi trabalhando”, explica a curadora ao programa Ensaio Geral, da Renascença.
À entrada para a exposição, o visitante depara-se com um grande mural cheio de pequenas fotografias. De fundo ouvem-se algumas das instalações sonoras criadas por Luísa Cunha, desde logo uma que se impõe, em que se ouve um tiro. Isabel Carlos chama a estes trabalhos “esculturas sonoras” e na mostra estão alguns dos primeiros trabalhos que a artista criou quando estudou na escola de artes ArCO.
Luísa Cunha “trabalha com o som, com a própria voz, com narrativas sonoras ou então com pequenas frases da vida cotidiana, muito coloquiais e que ela repete em ‘loop’”, explica Isabel Carlos. Aos 74 anos, a artista vê assim pela primeira vez o seu trabalho reunido, depois de ter ganho também, em 2022, o Prémio da Associação Internacional de Críticos de Arte para as artes visuais.
Ao Ensaio Geral, Isabel Carlos reconhece no trabalho de Luísa Cunha, um lado de “ativista, política, sexual, marota, tudo isto em formato feminino”. A curadora admite que “não era fácil”, então, e por isso “ela demorou algum tempo” a ser reconhecida. “Acho, contudo, que neste momento há já um consenso, mas foi de facto uma artista que demorou tempo a que o seu trabalho fosse reconhecido”, remata.
A exposição ocupa também espaços exteriores ao edifício do museu. Uma das instalações surpreende o visitante logo na entrada ao ouvir uma voz que grita, debaixo das escadas, de dentro de umas catacumbas uma palavra que soa a um grito de liberdade. “Frydm!” é uma peça que data de 2011 e que remete para uma dimensão política e para a situação de prisioneiros sírios.
A exposição “Hello! Are You There?” poderá ser visitada até 28 de agosto. Paralelamente à mostra é lançado um catálogo que se anuncia como o mais completo da obra de Luísa Cunha até hoje feito. Reúne um total de 108 obras em quase 300 páginas, acompanhadas por textos de diversos autores.