O Presidente da República escusou-se esta sexta-feira a comentar as dificuldades no processo de venda do Novo Banco, mas disse não ter dúvidas de que a decisão do Banco de Portugal será a que melhor defende os interesses nacionais.
"Devemos deixar o Banco de Portugal fazer o seu trabalho, o Banco de Portugal tem todas as informações que nós não conhecemos e não tenho dúvidas que a decisão do Banco de Portugal será aquela que melhor defende os interesses nacionais", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, quando questionado sobre as notícias de que a Fosun abandonou as negociações.
Recordando que que o processo de venda do Novo Banco é uma competência do Banco de Portugal e que só esta instituição "está em condições de decidir nessa matéria", Cavaco Silva insistiu que se deve deixar o Banco de Portugal "fazer a escolha que considera ser mais certa para a estabilidade do nosso sistema financeiro e aquela que melhor serve ao futuro".
Esta sexta-feira fica marcada pelas notícias de que a venda do Novo Banco pode vir a ser adiada. A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) alerta que, caso a venda não se concretize até ao fim de 2015, o Estado vai ter de emitir mais dívida pública ou recorrer aos depósitos da administração central.
Na sua nota mensal sobre a dívida pública, a que a Lusa teve acesso, a UTAO refere que "se encontra prevista uma receita com activos financeiros para 2015 referente à amortização do empréstimo de 3,9 mil milhões de euros efectuado ao Fundo de Resolução no âmbito do processo de resolução do BES [Banco Espírito Santo]".
De acordo com os técnicos independentes que apoiam o Parlamento, "caso tal não suceda, tornar-se-á necessário a emissão líquida de dívida pública ou a utilização dos depósitos de forma a satisfazer as necessidades líquidas de financiamento do Estado".
Este aviso da UTAO surge numa altura em que as negociações entre o Banco de Portugal e os potenciais compradores prosseguem ainda sem um resultado conclusivo e já depois de as negociações com os chineses da Anbang, que apresentaram a proposta que ficou em primeiro lugar, terem terminado sem acordo, segundo informou o banco central a 1 de Setembro. Já esta sexta-feira alguns órgãos de informação escrevem que a Fosun terá abandonado as negociações.
Na mesma nota, a UTAO refere ainda que as necessidades líquidas de financiamento do Estado nos primeiros sete meses do ano atingiram os 8,9 mil milhões de euros, acima dos 7,3 mil milhões previstos pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) para todo o ano.
Os técnicos notam que as necessidades de financiamento do Estado nos primeiros sete meses do ano ficaram também num "valor superior em 2,3 mil milhões de euros ao registado no período homólogo".