O maior desastre nuclear na história do planeta faz 37 anos esta quarta-feira. Na data em que se assinala o Dia Internacional em Memória do Desastre de Chernobyl, o professor catedrático de História Económica e Social da Universidade do Porto, Fernando de Sousa, lembra que esta catástrofe foi e continua a ser “um aviso para todos nós”.
À Renascença, Fernando de Sousa diz que Chernobyl mostra-nos, acima de tudo, “que as ditaduras tendem a tentar esconder ao máximo os seus fracassos”, já que a União Soviética, que estava “nitidamente em declínio” à época do desastre, tentou “escamotear a questão, não avisando atempadamente e rapidamente os países europeus que foram os mais afetados pela onda radioativa”.
Nesse sentido, Fernando de Sousa considera que a tragédia foi, “simbolicamente, o fim da União Soviética” e que a forma como tentaram resolver a situação revelou uma “inadaptação, inadequação e incapacidade do Estado soviético para resolver ou mitigar a gravidade” da catástrofe.
O professor da Universidade do Porto explica que, em Chernobyl, houve “nitidamente um abaixamento dos cuidados necessários de manutenção e de controlo” e alerta que é necessário “ter muito cuidado e desenvolver os exercícios e as manobras de manutenção e de controlo das centrais nucleares”.
"Russos não precisam de lançar bombas atómicas"
Este é um desastre antigo, mas bastante atual. Por isso, Fernando de Sousa dá o exemplo da guerra na Ucrânia, defendendo que se deviam fechar as centrais nucleares nesse país, “de forma a atenuar o perigo que paira sobre nós, mas sobretudo sobre os ucranianos e parte dos ucranianos que estão dominados em território russo”.
Fernando de Sousa recorda, ainda, que Zaporíjia tem sido “palco de combates e bombardeamentos entre os ucranianos e os russos”, o que se torna perigoso uma vez que as bombas podem vir a cair na central de Zaporíjia.
“Se os russos se sentirem encurralados, eles não precisam de lançar bombas atómicas, basta-lhes bombardear Zaporíjia e criar um problema gravíssimo para a Ucrânia e também para as populações que estão sob o seu controle”, alerta o professor.
No dia em que a catástrofe faz 37 anos, Fernando de Sousa lembra que “andamos a brincar com o fogo há bastante tempo, há mais de um ano”, com um fogo “que se lavrar, não vai perdoar ninguém” e conclui que é fundamental que haja um cessar-fogo da guerra na Ucrânia, para que não se corra o risco de um novo acidente nuclear vir a existir, como aconteceu em Chernobyl.
O desastre aconteceu a 26 de abril de 1986, devido a um incêndio no reator 4 da central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. Embora, até hoje, as consequências da catástrofe não sejam conhecidas na totalidade, sabe-se que provocou centenas de vítimas e obrigou à retirada de milhares de habitantes da região.