É preciso avançar com a criação de um tribunal internacional e começar – já – a julgar a Rússia e os russos responsáveis pelos crimes de guerra cometidos na Ucrânia.
Este foi o principal apelo lançado esta quarta-feira por Volodymir Zelensky, o Presidente da Ucrânia, na cerimónia de entrega do Prémio Sakharov, que este ano distinguiu o povo ucraniano pela sua resistência à invasão da Rússia.
“Temos de agir agora, não podemos esperar pelo fim da guerra [na Ucrânia] para levar à justiça todos aqueles que prevaricaram”, disse o Presidente da Ucrânia, , numa intervenção feita por videoconferência.“O tribunal tem de começar a trabalhar”, de modo a enviar um sinal: o de que “a punição de um crime de guerra é inevitável.”
“Só depois do fim da guerra, quando libertarmos todo o nosso território, é que vamos conseguir conhecer os nomes de milhares de vítimas”, destacou.
Perante os representantes do Parlamento Europeu, Zelensky reiterou que a Ucrânia está a lutar não só por si, mas também pela Europa.
“Vamos ganhar [a guerra] para que não haja tentativas de aplicar uma política genocida, nem na Ucrânia nem na Europa.”
E acusou ainda as forças militares russas de “queimar tudo pelo caminho”, de destruírem todas as “infraestruturas essenciais” em várias cidades e aldeias: “Os ataques russos deixam apenas pedras.”
Ainda há poucos dias, Volodymir Zelensky foi eleito personalidade do ano pela revista norte-americana “Time”. A organização não-governamental (ONG) Centro de Liberdades Civis da Ucrânia foi uma das instituições galardoadas com o Prémio Nobel da Paz este ano.
Um prémio russo… para a Ucrânia
A História, por vezes, tem forma de círculo. O prémio Sakharov foi instituído, em 1988, em homenagem a um físico e dissidente russo, que alertou o mundo para o perigo das armas nucleares.
Roberta Metsola, Presidente do Parlamento Europeu, fez questão de lembrar o legado histórico da distinção na cerimónia. “Um país que não respeite os direitos dos seus cidadãos não respeitará os direitos dos seus vizinhos”, disse.
Metsola recordou também que a Bielorrússia, nação vizinha e aliada da Rússia, é o país que tem o maior número de premiados Sakharov na prisão.
O Parlamento Europeu “está com a Ucrânia nesta luta”. Já foram aprovados oito pacotes de sanções e está um nono “a caminho”, anunciou a representante.
Na cerimónia, para receber a distinção em mãos, estiveram presentes quatro representantes do povo ucraniano: Yarosalv Bozkho, do Movimento de Resistência Fita Amarela, Oleksandra Matviychuk, fundadora do Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, Ivan Fedorov, presidente eleito da câmara de Melitopol (sul), e Yulia Paievska, conhecida internacionalmente por ter fundado o serviço voluntário de ambulâncias “Taira’s Angels”.
Em 2021, esta distinção foi atribuída ao líder da oposição russa, Alexei Navalny, pela sua luta contra a corrupção e os abusos dos direitos humanos cometidos pelo Kremlin.