Os clubes são para já 12 - de Inglaterra, Espanha e Itália, todos tubarões, desde o Manchester United e o Liverpool ao Real Madrid, passando pela Juventus e pelo Milan. O objetivo é que os fundadores sejam 15, mas pelos vistos não tem sido fácil convencer outros tubarões, porque emblemas históricos como o Bayern ou o PSG ou o Porto foram sondados e rejeitaram.
A Renascença explica-lhe o formato da nova competição proposta pelos clubes, as motivações financeiras para a sua criação e as ameaças da UEFA aos clubes e jogadores.
Quem faz parte da Superliga?
Até agora, AC Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, Barcelona, Inter de Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Tottenham e Real Madrid são os clubes fundadores, que terão acesso cativo à prova e serão os reguladores da competição. Mais três clubes serão ainda convidados para integrar uma lista de 15 emblemas fundadores.
A estes 15 clubes vão juntar-se mais cinco, que se classificarão anualmente com base no rendimento da temporada anterior, formando um lote de 20 equipas que vão participar na prova.
Qual o formato da competição?
A participação dos clubes começa em dois grupos de dez. Os três primeiros classificados de cada grupo qualificam-se automaticamente para os quartos de final, aos quais se juntam os vencedores de um "play-off" a duas mãos entre os quartos e quintos classificados dos dois grupos.
A partir dos quartos de final, o formato é semelhante ao atual da Liga dos Campeões, com eliminatórias a duas mãos até à final, que se realizará no final de maio, em campo neutro.
Há data para o arranque da prova?
De acordo com o comunicado conjunto dos clubes, a prova vai arrancar "assim que seja possível", pelo que poderá mesmo ser já na próxima temporada, em agosto, sendo que os clubes participantes vão abdicar da sua vaga nas habituais competições europeias - Liga dos Campeões, Liga Europa e Conference League, nova competição da UEFA que terá a sua primeira edição em 2021/2022.
Quais os valores envolvidos na competição?
O aspeto económico é um dos principais motivos para a criação da nova competição e os pagamentos pela participação serão consideravelmente superiores aos da Liga dos Campeões, conhecida como a "liga milionária".
De acordo com o comunicado, os clubes fundadores vão receber um montante de 3,5 mil milhões de euros para "apoiar os seus planos de investimento em infraestruturas para compensar o impacto da pandemia de Covid-19". Ou seja, cada clube deverá receber um valor a rondar os 230 milhões de euros apenas pela participação na prova, o que é cerca do dobro do que o vencedor da Liga dos Campeões venceu na última época.
No entanto, os valores envolvidos deverão ser ainda superiores, uma vez que ainda não foram revelados prémios por resultados e por alcançar determinada fase da prova.
Que clubes não aceitaram o convite?
O Bayern de Munique encabeça a lista de clubes contra a Superliga Europeia. O atual campeão europeu anunciou que "não esteve envolvido nos planos de criação" da prova. O gigante Paris Saint-Germain, Lyon, Borussia Dortmund e o RB Leipzig também recusaram. Não há, até à data, qualquer clube alemão ou francês envolvido na Superliga.
Algum clube português foi convidado?
Sim. Pinto da Costa, presidente do FC Porto, confirmou que o FC Porto recebeu "contactos informais" para participar na prova, mas que não vai romper laços com a UEFA. "Não demos grande atenção. Em primeiro lugar, porque a União Europeia não permite que haja provas em circuito fechado como há nos Estados Unidos, por exemplo. Em segundo lugar, estando a nossa Federação contra isso e fazendo ela parte da UEFA, nós, enquadrados nesse quadro, não podemos estar a participar numa coisa que é contra os princípios e regras da UE e da UEFA", explicou.
Benfica e Sporting não foram convidados, mas ambos mostraram-se publicamente contra a criação da Superliga Europeia.
O que planeia fazer a UEFA?
A UEFA quer castigar os clubes que criaram a Superliga e romperam com as competições organizadas pela instituição que atualmente tutela o futebol europeu. Aleksander Ceferin, presidente da UEFA, garantiu que o organismo vai avançar para "todas as sanções possíveis".
Ainda não existe uma decisão em relação ao desfecho das duas competições europeias desta temporada. A Liga dos Campeões conta com três dos clubes fundadores da Superliga Europeia - Chelsea, Manchester City e Real Madrid -, e a Liga Europa tem dois clubes - Arsenal e Manchester United.
É esperada uma reunião extraordinária do comité executivo da UEFA ao longo desta semana para que seja tomada uma decisão, sendo que a sua exclusão é um cenário em cima da mesa. A UEFA já abriu a porta à possibilidade que os clubes sejam também excluídos das suas ligas domésticas, ficando apenas com a Superliga Europeia para competir.
Para além das sanções aos clubes, a UEFA já anunciou que os jogadores que alinharem na Superliga "não voltam a jogar pelas suas seleções".
O que pode acontecer aos jogadores portugueses dos clubes fundadores?
Há 11 jogadores portugueses em risco de não poderem ser convocados por Fernando Santos, dos quais nove são internacionais pela seleção principal, sendo que o Campeonato da Europa disputa-se dentro de dois meses.
João Félix (Atlético de Madrid), Francisco Trincão (Barcelona), Diogo Dalot e Rafael Leão (AC Milan), Cristiano Ronaldo (Juventus), João Cancelo, Rúben Dias e Bernardo Silva (Manchester City), Bruno Fernandes (Manchester United), Diogo Jota (Liverpool) e Cédric Soares (Arsenal) são os jogadores que integram os 12 clubes fundadores. Apenas Rafael Leão e Diogo Dalot não somam internacionalizações pela seleção AA.
A Liga dos Campeões e a Liga Europa vão acabar?
Não. Aleksander Ceferin garantiu que as duas provas vão continuar a realizar-se, com ou sem os clubes que disputem a Superliga Europeia. "É possível jogar a Liga dos Campeões sem estes clubes, pois na Europa há muitas equipas e muito boas. A Liga dos Campeões continuará a ser disputada, com ou sem eles", disse.
Os jogadores e treinadores já se pronunciaram?
Depois de uma receção caótica nas redes sociais, com os adeptos de todo o mundo a invadirem as páginas dos clubes, as reações dos jogadores têm surgido aos poucos.
A maioria dos jogadores a pronunciarem-se foram jogadores que já terminaram a carreira ou que alinham em clubes que não fundaram a Superliga Europeia. Bruno Fernandes, internacional português e médio do Manchester United, e João Cancelo, lateral-direito do Manchester City, concordaram de forma breve com uma publicação do compatriota Daniel Podence contra a prova.
A Associação Internacional de Futebolistas Profissionais (FIFPro) manifestou preocupação com o possível impacto da criação de Superliga europeia, e lamentou que os jogadores sejam ignorados nas negociações e ameaçados de exclusão das seleções dos seus países.
Nos treinadores, Jurgen Klopp, do Liverpool, que anteriormente já se tinha mostrado contra a criação da competição, sublinhou a sua posição antes do jogo contra o Leeds, na segunda-feira à noite: "Não tenho problemas com a Liga dos Campeões, gosto do facto que o West Ham se possa qualificar esta época". Já Thomas Tuchel, treinador do Chelsea, foi mais reservado e colocou a sua confiança nas decisões da direção dos "blues".