O que está a levar ao reencaminhamento de grávidas para os privados?
O que se passa é que faltam médicos. Os obstetras do Hospital de Santa Maria recusam fazer horas extraordinárias, além das 150 por ano, previstas na lei. Assim sendo, sem médicos para assegurar as equipas, a administração do hospital decidiu enviar grávidas de baixo risco para hospitais privados.
É uma medida que já estava prevista no chamado plano “nascer em segurança no SNS”, mas só a partir de 1 de agosto, porque é quando quando a maternidade do Santa Maria vai fechar para obras e os partos serão transferidos o hospital de São Francisco Xavier.
Só que há uma guerra dos médicos com a administração, justamente, por causa da forma como vai ser feita a transferência dos partos. Já na semana passada - devem estar lembrados - Diogo Ayres de Campos foi afastado da direção do Departamento de Obstetrícia e vários chefes e subchefes das equipas da urgência apresentaram a demissão.
Falaste há pouco em grávidas de baixo risco e as restantes, para onde vão?
O que está previsto é que as grávidas de risco continuem a ser seguidas e a ter os bebés no Hospital de Santa Maria.
Só que ao que a Renascença apurou, nem para esses casos as equipas de obstetrícia estão asseguradas. Neste momento, o hospital só consegue garantir três médicos por dia, quando precisa de quatro. Segundo foi possível apurar, as escalas estão a ser refeitas e não está fora de hipótese o centro hospitalar ter de recorrer a médicos tarefeiros para conseguir completar as equipas.
Então e porque é que as grávidas não vão para o hospital São Francisco Xavier? Se estava previsto a partir de agosto, podiam antecipar ou não?
O problema é que o São Francisco Xavier tem a maternidade fechada aos fins de semana. Aliás, ontem, dia em que o Santa Maria anunciou que não tinha condições para atender todas as grávidas, o serviço do Hospital do Restelo estava encerrado. Além disso, também está em obras justamente para poder acomodar as parturientes que a partir de 1 de agosto não possam ir para Santa Maria.
Como é que as grávidas, que até agora eram seguidas em Santa Maria, sabem para que hospital é que vão? E como vão?
O que está previsto é que o encaminhamento seja programado, ou seja, quando o Santa Maria não tiver capacidade para fazer o parto fará a transferência para um dos hospitais privados que assinaram a convenção com o Ministério da Saúde e que são o Hospital da Luz, o Hospital da CUF e os Lusíadas.
Já no domingo à noite aconteceu a primeira e - ao que a Renascença apurou - já estão programadas mais duas transferências, uma amanhã e outra na quarta-feira.
O hospital de Santa Maria assegura em média entre 6 a 8 partos por dia, um pouco mais ao fim de semana por causa do encerramento de outras maternidades que fecham de forma rotativa, nomeadamente, a de Loures e do São Francisco Xavier.
E o ministério da saúde o que é que diz a esta situação?
Manuel Pizarro repete as palavras já habituais, garante "tranquilidade e segurança", embora admita que não está satisfeito com o que chamada de “conflitualidade” no hospital de Santa Maria. Mas, já agora, dizer que a Renascença também contactou a Direção executiva do SNS, que diz que, além deste caso específico do hospital Santa Maria, para já não está prevista qualquer alteração adicional ao Plano “Nascer em segurança no SNS”.