O primeiro relatório do Observatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) tem conclusões encorajadoras e desafiantes. Se Portugal está bem posicionado, ocupando a 20.ª mundial, as empresas nacionais ainda têm um longo percurso a percorrer para o cumprimento da Agenda 2030.
São 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, 169 metas e 232 indicadores. Estes são os números do mapa que tem de ser cumprido no âmbito da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas. No início deste mês, foi apresentado o primeiro relatório do Observatório dos ODS nas empresas portuguesas.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são a única agenda comum para a humanidade, que aponta para um caminho claro e mensurável de progresso até 2030. Incorpora os maiores desafios que enfrentamos, mas aponta soluções. Neste sentido, a atuação em cooperação entre setor público, privado e sociedade civil no cumprimento desta agenda é crucial.
As principais conclusões do estudo são tanto encorajadoras quanto desafiadoras. Portugal, como país, está bem posicionado no panorama mundial, situando-se na 20.ª posição mundial e ocupando a 12.ª posição ao nível dos países da OCDE.
No entanto, há ainda vários desafios, nomeadamente em ODS que são estratégicos para o país como o ODS #14 (proteger a vida marinha) e o ODS #13 (ação climática). Também precisamos de melhorar a atuação no ODS #12 (produção e consumo responsável), ODS #15 (proteger vida terrestre) e ODS 2# (fome zero e agricultura sustentável). Todos os detalhes desta análise podem ser consultados no capítulo 4 deste relatório.
No que se refere às empresas portuguesas, a maior conclusão é que têm uma grande ambição de se envolverem com a sustentabilidade, mas ficam para trás no que toca à sua operacionalização. Os números mostram que 95% das grandes empresas e 77% das PMEs consideram a sustentabilidade como uma oportunidade estratégica para os seus negócios. Adicionalmente, 90% das grandes empresas e 65% das PMEs consideram que o seu propósito de negócio é a criação de valor para os stakeholders (e não os shareholders).
No entanto, quando questionadas acerca dos ODS, a maioria das empresas afirma que se quer envolver mais com esta agenda, apesar de apontarem algumas barreiras: a falta de conhecimento sobre “como operacionalizar os ODS”, a falta de conhecimento desta agenda de forma geral, a falta de recursos e o não reconhecimento do business case são algumas destas barreiras.
A maioria das empresas considera também que está longe “de onde gostaria de estar” em termos da sua ambição para os ODS. Neste sentido, as empresas gostariam de ter acesso a maior partilha de boas-práticas e a mais suporte para avançar com as suas estratégias ODS, de forma a continuarem o seu progresso no caminho da sustentabilidade.
Este estudo é, assim, um dos primeiros passos para acelerar uma agenda corporativa que apoie uma ambição de sustentabilidade comum para o nosso país. Também representa uma oportunidade para que as empresas portuguesas liderem esta agenda de Portugal para o mundo.
*Filipa Pires de Almeida, Deputy Director do Center for Responsible Business & Leadership da Católica-Lisbon
Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics.