O Papa está disponível para ir à capital russa para falar com Vladimir Putin sobre a situação na Ucrânia. Numa entrevista ao diário italiano Corriere de la Sera, Francisco adianta que 20 dias depois do início do conflito, o Vaticano enviou ao Presidente russo uma mensagem, a manifestar disponibilidade para esse encontro. Mas ainda não recebeu uma resposta.
Ainda assim, mesmo temendo que Putin não possa e não queira ter este encontro agora, o Papa garante que vai continuar a insistir.
Já quanto a visita Kiev, Francisco considera que este não é o momento. Refere que enviou o cardeal Michael Czerny, (prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral) e o cardeal Konrad Krajewski, (esmoleiro pontifício), que se deslocaram ao território quatro vezes.
“Sinto que não preciso ir. Primeiro tenho que ir a Moscovo, primeiro tenho que me encontrar com Putin. Mas também sou padre, o que posso fazer? Eu faço o que eu posso. Se Putin abrir a porta ...”, diz o Papa.
Quanto aos contactos que manteve com o Patriarca Kiril, chefe da Igreja Ortodoxa russa, no sentido de ajudar a tornar possível esse encontro, o Papa recordou uma reunião online em que Kiril lhe apresentou todas as justificações para a guerra. Em resposta, Francisco disse-lhe que não se pode transformar num “acólito do poder de Putin”.
Francisco recorda ainda um encontro que manteve com Victor Orbán, o presidente da Hungria, que lhe garantiu que os planos russos preveem que a guerra na Ucrânia termine a 9 de maio.
“Espero que assim seja, para que também entendamos a velocidade da escalada dos dias de hoje. Porque agora não é só o Donbass, é a Crimeia, é Odessa, a Ucrânia está a ficar sem o porto do Mar Negro. Estou pessimista, mas devemos fazer todos os gestos possíveis para parar a guerra”, defende o Papa.
Nesta entrevista ao Corriere de la Sera, Francisco fala também sobre as razões que poderão ter levado o Presidente russo a invadir a Ucrânia, admitindo que a aproximação da NATO à região pode ter levado o Kremlin a reagir mal e a desencadear o conflito.
O Papa fala mesmo de uma “raiva”, embora não se pronuncie se foi ou não provocada.
O fornecimento de armas por parte das nações ocidentais, parece também não agradar ao Papa. “Não posso responder, estou muito longe, à questão de saber se é certo fornecer aos ucranianos”, diz Francisco.
“O claro é que as armas estão sendo testadas naquela terra. Os russos agora sabem que os tanques são de pouca utilidade e estão pensando em outras coisas. As guerras são travadas para isso: para testar as armas que produzimos”, acrescenta Francisco, lembrando que foi o que aconteceu no caso na Guerra Civil Espanhola antes da Segunda Guerra Mundial.
“O comércio de armas é um escândalo, poucos se opõem a isso. Há dois ou três anos, um navio carregado de armas chegou a Génova, que teve que ser transferido para um grande cargueiro para transportá-los para o Iêmen. Os trabalhadores portuários não quiseram fazer isso. Eles disseram: vamos pensar nas crianças do Iémen. É uma coisa pequena, mas um gesto bonito. Deveria haver tantos assim”, diz.
Ainda sobre o conflito na Ucrânia, o Papa nota que “para a paz não há vontade suficiente”, realçando que "a guerra é terrível e devemos gritar".