O Papa Francisco anunciou hoje a sua intenção de reabrir a comissão que debateu a possibilidade de ordenação diaconal de mulheres, na Igreja Católica, falando no final dos trabalhos do Sínodo especial para a Amazónia.
“Assumo o pedido de voltar a chamar a comissão ou talvez abri-la com novos membros, para estudar como existia, na Igreja primitiva, o diaconado feminino”, declarou, perante os bispos, missionários, religiosos e representantes de indígenas que participaram na assembleia, desde 6 de outubro.
Após a votação do documento final, que aconteceu esta tarde, o Papa disse que o Sínodo pediu “criatividade” para que seja possível encontrar “novos ministérios” para as comunidades católicas.
Francisco indicou a vontade de trabalhar com a Congregação para a Doutrina da Fé (Santa Sé), para “ver até onde se pode chegar”.
Após três semanas de trabalho em que se valorizou o papel das lideranças femininas na “transmissão da fé e na preservação da cultura”, o pontífice pediu que “não se fique apenas na parte funcional”.
“O papel da mulher da Igreja vai muito mais além da funcionalidade e é nisso que temos de continuar a trabalhar”, indicou.
No número 103 do documento final, aprovado com 30 votos contra e 137 favoráveis, sublinha-se que “as múltiplas consultas realizadas no espaço amazónico” destacam o “papel fundamental das mulheres religiosas e leigas na Igreja da Amazónia”, com os seus múltiplos serviços.
“Num grande número destas consultas, solicitou-se o diaconado permanente para a mulher”, pode ler-se.
O ponto anterior apela à formação de mulheres em estudos teológicos e uma maior presença em papéis de liderança, dentro e fora da Igreja.
"Nos novos contextos de evangelização e pastoral na Amazónia, onde a maioria das comunidades católicas são lideradas por mulheres, pedimos que seja criado o ministério instituído da ‘mulher dirigente da comunidade’ e reconhecer isto, dentro do serviço das exigências da mutação da evangelização e da atenção às comunidades."
Os participantes pedem a oportunidade de partilhar “experiências e reflexões” com a Comissão de Estuado sobre o Diaconado das Mulheres.
A primeira comissão para o estudo do diaconado feminino foi anunciada a 12 de maio de 2016, durante um encontro de Francisco com a União Internacional de Superioras Gerais (UISG) de institutos religiosos femininos.
Em maio deste ano, o Papa disse que a comissão tinha sido inconclusiva, descartando mudanças no futuro imediato.
“Não há certeza de que a sua (mulheres) fosse uma ordenação com a mesma forma e com o mesmo propósito que a ordenação masculina. Alguns dizem: há dúvidas. Vamos continuar a estudar. Mas até agora não se avança”, referiu, em declarações aos jornalistas durante o voo de regresso ao Vaticano, desde a Macedónia do Norte.
O diaconado é o primeiro grau do Sacramento da Ordem (diaconado, sacerdócio, episcopado), atualmente reservado aos homens, na Igreja Católica.
Segundo o Papa, não existem dúvidas de que havia diaconisas no começo do Cristianismo, mas a questão está em determinar se “era uma ordenação sacramental ou não”.
Os estudos mostram que estas primeiras diaconisas assistiam na liturgia batismal de mulheres, que era por imersão, e eram chamadas para casos de disputa matrimonial para avaliar eventuais maus-tratos, uma situação limitada a uma área geográfica, especialmente a Síria.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconado permanente, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade), o que não acontece com o sacerdócio.
O diaconado exercido por candidatos ao sacerdócio só é concedido a homens solteiros.
Com origem grega, a palavra ‘diácono’ pode traduzir-se por servidor, e corresponde a alguém especialmente destinado na Igreja Católica às atividades caritativas, a anunciar a Bíblia e a exercer funções litúrgicas, como assistir o bispo e o padre nas missas, administrar o Batismo, presidir a casamentos e exéquias, entre outras funções.