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Bento XVI foi “um grande teólogo que se tornou um grande Pastor”, tendo deixado “uma herança profética”. A opinião é consensual junto do painel de convidados que nesta tarde de sábado debateram, na Renascença, as encíclicas e o pensamento do Papa Emérito, que partiu esta manhã, aos 95 anos.
Para o professor catedrático Guilherme d’Oliveira Martins, Bento XVI foi “um teólogo e um Pastor de diálogo” com um perfil de “grande coerência” em todo o seu percurso, colocando sempre “as pessoas em primeiro lugar” e cuja “palavra tem extraordinária atualidade”.
Opinião corroborada pelo arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, para quem os textos do Papa Emérito eram “profundamente proféticos”.
Na mesma linha de pensamento a teóloga Isabel Alçada Cardoso, que acentuou a tónica do “diálogo aberto e a escuta do outro”, que o Papa defendia quando a questão incidia sobre a fé e a razão, destacando o “diálogo inter-religioso” que “Francisco prossegue nos dias de hoje”.
“Deus Caritas est” (2005); “Spe Salvi” (2007) e “Caritas in veritate” (2009) são as encíclicas que Bento VI deixou como herança e que definiam o pensamento “coerente” do Papa Emérito que levou a várias interpretações, nem sempre favoráveis e de acordo com a sua persolidade.
Por exemplo, Guilherme de Oliveira Martins classifica de “pobre” reduzir a personalidade de Bento XVI ao seu conservadorismo. O ex-ministro e membro do Conselho Nacional de Cultura prefere recordar, antes, Joseph Ratzinger como um Papa de paradoxos.
“O Papa Bento XVI é um Papa de paradoxos e é uma personalidade extremamente vincada e extremamente rica. É por isso, que essa ideia, um bocadinho pobre, de referir apenas a dimensão mais conservadora, é uma ideia, a meu ver, incompleta e que não dá riqueza da personalidade, riqueza teológica do próprio Papa Bento XVI”, refere.
Convicção partilhada por D. José Cordeiro. O arcebispo de Braga defende que, mais do que ser conservador, Bento XVI poderia ser um defensor da tradição.
“O facto de muitos setores o terem catalogado de conservador, eu leio mais no sentido do amor à tradição, daquilo que ele chama a hermenêutica da continuidade no seguimento do Concilio Vaticano II, pois ele é um dos construtores do seu pensamento”, afirma o prelado.
Já a teóloga Isabel Alçada Cardoso sublinha a proximidade de Bento XVI às pessoas e aos temas da atualidade.
“Se virmos os seus discursos, os seus textos, vemos que quando Joseph Ratzinger é eleito Papa, ele faz um esforço e nós percebemos que dá esse passo, que é a passagem de grande teólogo a Pastor. Podemos ver em tantos outros discursos como a sua atenção à realidade, este desejo de verdade, no fundo este critério inalienável de todo o julgamento e o amor da caridade, este sentido último da existência como dom do Espirito Santo que nos orienta e nos conduz ao pai, estão presentes, no agora Papa Bento XVI, como Pastor, que nos mostra esta atenção à realidade, este estar presente no mundo, na história”, sublinha.
As encíclicas de Bento XVI que Francisco aprofundou
Neste debate na Renascença, foi também destacada a atualidade das três encíclicas de Bento XVI, com Guilherme d’Oliveira Martins a acentuar a capacidade do Papa Emérito de ler os sinais dos tempos.
“Devo salientar que a capacidade que Bento XVI teve de ler os sinais dos tempos é algo de extraordinário. Daí a atualidade das três encíclicas que são complementares sobre o amor, a esperança e a caridade. Se lermos com cuidado o Papa Francisco prosseguiu desenvolveu, aprofundou muitas dessas preocupações”, alerta o professor catedrático.
Por sua vez, para Isabel Alçada Cardoso, as palavras do Papa Emérito nas Encíclicas e nos seus discursos, demonstram grande adequação à realidade dos nossos dias e que o Papa Francisco prossegue muitas das ideias deixadas por Bento XVI.
“As encíclicas do Papa Francisco que de alguma forma incidem sobre temas da Doutrina Social da Igreja estão ancoradas, muitas delas, nas encíclicas do Papa Bento XVI. É no fundo perceber que o bem comum não é só economia, mas é muito mais complexo. O bem comum implica, não só, os aspetos económicos, mas todos os aspetos que têm a ver com o desenvolvimento integral e, portanto tem a ver com educação, saúde, etc. Nós vemos os tempos que estamos a viver e o conteúdo desta encíclica é iluminador para olhar a situação que vivemos”, observa.
Já o Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, defende que as encíclicas de Bento XVI são fundamentais para o contributo da Igreja no diálogo com o mundo com a atualidade.
“Há uma interligação muito profunda das três encíclicas na coerência daquela expressão a que ele se deve da “ditadura do relativismo”, porque apresenta o contributo positivo da Igreja para o diálogo com o mundo e nos tempos que vivemos de uma maneira clara, simples e humilde, mas tocando aquilo que é essencial”, declara o arcebispo de Braga.