António Guterres iniciará o seu segundo mandato como secretário-geral da ONU com o apoio de todos os 193 Estados membros da Organização, incluindo dos membros do Conselho de Segurança. É algo que honra Portugal.
Guterres aceitou cumprir mais cinco anos de mandato, sendo que o seu anterior mandato se revelou frustrante. Trump não gostava de organizações multilaterais e fez tudo para prejudicar a ONU. Ora Guterres considerava-se um “multilaterialista devoto”. Certamente que ter agora J. Biden na Casa Branca pesou na decisão de Guterres de continuar no cargo.
Alguma coisa irá melhorar, espera-se, no já complexo sistema das Nações Unidas, por exemplo na semi-paralisada Organização Mundial do Comércio e na própria Organização Mundial de Saúde, cuja importância - e limitações – a pandemia tornou mais evidentes. Mas será irrealista esperar grandes mudanças.
A ONU é uma organização dos vencedores da II guerra mundial, que começou a ser pensada logo em 1941, quando uma derrota de Hitler ainda não se vislumbrava no horizonte. A sua utilidade tem sido evidente, mas há longos anos que se aguarda uma reforma da ONU, que nunca se concretiza. O seu órgão de topo, o Conselho de Segurança, fica bloqueado sempre que surgem problemas envolvendo algum ou alguns dos seus membros permanentes – EUA, Rússia, França, Reino Unido e China - pois estes países têm o direito de vetar qualquer resolução que lhes desagrade.
Se o projeto inicial da ONU partia de dois líderes políticos com inegáveis convicções democráticas, F. Roosevelt e W. Churchill, as coisas começaram a complicar-se quando a essa dupla se juntou o sangrento ditador Estaline, independentemente de se reconhecer o contributo decisivo da União Soviética para a derrota da Alemanha nazi. E depois a China, com a vitória comunista, dificultou ainda mais a obtenção de consensos democráticos no Conselho de Segurança.
Por outro lado, uma ONU que tem hoje quase duzentos países membros nem sempre consegue evitar certas aberrações. Como órgãos que teoricamente deveriam zelar pela aplicação de valores democráticos serem, de forma temporária e rotativa, encabeçados por países dirigidos por brutais ditadores, tudo menos democráticos.
Combater os efeitos dramáticos da pandemia, designadamente no aumento da pobreza mundial e no agravamento das desigualdades económicas, é a primeira prioridade de Guterres para o seu segundo mandato enquanto secretário-geral da ONU. Ele será um mediador e um “construtor de pontes” para um multilateralismo que quer ver reforçado. Mas não se esperem milagres. Como o próprio Guterres afirmou, “a atitude certa é nunca desistir”.