O coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), Lino Santos, diz que não restam, hoje em dia dúvidas de que Portugal está tão vulnerável a ataques cibernéticos como qualquer outro país.
"O que acontece é que todas as situações que nós vemos, que temos conhecimento que acontece aos outros, já aconteceram ou vão acontecer aqui em Portugal", diz Lino Santos, em entrevista à Renascença, concedida à margem da C-DAYS, conferência dedicada ao tema a decorrer estas quarta e quinta-feira na alfândega do Porto.
O responsável do CNCS sublinha que potenciais ataques na esfera cibernética deixaram de estar no condicional. "A questão não é saber se vai acontecer, mas quando vai acontecer", sublinha.
O contexto e mote da conferência que Lino Santos ajudou a organizar é cibersegurança, algo que o especialista define como "tudo aquilo que contribui para que usemos o ciberespaço de forma livre e segura". A este conceito, contrapõe o de insegurança.
"A incibersegurança é um sentimento de medo e receio de que algo pode correr errado. O conceito de segurança é mais difícil [de explicar], porque é um estado não-alcançável", considera.
O pensamento cético vinculado na sociedade portuguesa e o facto de o digital ser uma área não-física acaba por distanciar-nos destas preocupações sobre os perigos que o ciberespaço encerra. E essa é uma descrença que prejudica o desenvolvimento da cibersegurança em Portugal, defende Lino Santos.
"O princípio de que só acontece aos outros normalmente corre mal. Na realidade, não é isso que acontece."
A luta dos mais novos e a aprendizagem dos mais velhos
“Devemos olhar para os mais velhos, pois vão ser os que mais dificuldades vão sentir a adotar comportamentos seguros", ressalta o coordenador. "Eles também usam a tecnologia, também correm riscos, fazem comprar online e também recebem e enviam emails.”
Lino Santos evoca o exemplo das marchas pelo ambiente - onda criada essencialmente pela geração mais nova - para fazer o paralelo com a passagem de testemunho e conhecimentos dos jovens para os mais velhos. Essa é uma das estratégias, a par do trabalho muito importante que é preciso fazer nas escolas, nomeadamente no ensino básico e secundário, para se conseguir um "efeito multiplicador".
Segundo o coordenador do CNCS, a Direção-Geral da Educação, que faz parte do conselho nacional do ciberespaço, foi uma das identidades que mais medidas implementou da estratégia anterior de ciberespaço. Exemplo disso foi a introdução do tema da cibersegurança no currículo escolar.
Contudo, a educação sobre cibersegurança não deve ficar-se pelas universidades, pois existe uma tendência para “olhar para a cibersegurança num espectro exclusivamente técnico”, critica. “A cibersegurança não é uma coisa exclusiva de engenheiros e deve ser dada em todas as áreas de conhecimento.”
Reconhecer o risco já não chega. É preciso saber o que fazer
E quem ainda não acredita nos riscos do universo digital? “Não é uma questão de fé”, responde Lino Santos, relembrando os diversos exemplos de ameaças e ataques a nível internacional e até nacional.
“A comunicação social faz um papel muito importante no alerta das nossas empresas e dos nossos cidadãos para os perigos destas tecnologias. Agora, é um facto que ainda existem aqueles que precisam de ser alertados.”
Ainda assim, o responsável relembra que mesmo os que já estão alertados “precisam de saber o que fazer numa situação de perigo".
“Temos de chegar às pessoas. Primeiro alertá-las e depois dar-lhes as ferramentas necessárias”, reforça. Estas ferramentas passam por uma formação específica e por adotar comportamentos seguros.
Lino Santos revela que o grande objetivo do centro que coordena é mudar estes comportamentos, algo que não é propriamente fácil; há dificuldades na hora de os cultivar até surgirem como reflexo natural no dia-a-dia do cidadão, explica.
“É preciso que sejam irrefletidos, que tenhamos comportamentos como temos no mundo físico. Tão simples como olhar para esquerda e a direita quando atravessamos a estrada.”
Sobre o que falta fazer em Portugal, a resposta é geral: “Ainda falta muito.” Apesar disso, o coordenador do CNCS admite que a caminhada nacional tem sido positiva.
“Portugal tem alicerces fortes para isso. Tem o CNCS, empresas envolvidas e tem iniciativas de sensibilização. Estamos num bom caminho.”