Sem Jerónimo, mas com dois “Joões”, CDU aposta em Lisboa e Setúbal
16-01-2022 - 09:50
 • Beatriz Lopes

Campanha dos comunistas terá em média três ações por dia e não abdica do contacto com a população e de encontros com trabalhadores de várias áreas. Pelo meio, há uma viagem de comboio na Linha do Oeste, um dia dedicado a crianças, jovens e famílias e comícios quase todos os dias.

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Nem mesmo uma pandemia convence os comunistas a retirarem da agenda eleitoral o contacto com os militantes. Os almoços em mesas corridas e cadeiras de plástico estão fora dos planos e os jantares ornamentados com bandeiras vermelhas ao som de "Avante Camarada!" ou outras músicas do reportório comunista também. O resto nunca, não fosse a CDU “decisiva na luta de todos os dias”. Que luta é essa nestas legislativas? Já lá vamos.

A coligação vai estar no terreno nas próximas duas semanas, cumprindo aquela que vai ser mais uma campanha atípica. E não, não nos referimos apenas à Covid-19: é que só na reta final a CDU deverá contar com o rosto mais emblemático – Jerónimo de Sousa, que está a recuperar de uma cirurgia de urgência.

Até ao regresso do líder do PCP, caberá a João Ferreira, vereador na Câmara de Lisboa, e a João Oliveira, líder parlamentar, dividirem os quilómetros de estrada. Se a ausência inesperada de Jerónimo terá impacto na dinâmica da campanha e no resultado eleitoral? João Ferreira já veio garantir que “a CDU não é uma força de um homem só, nem de dois, nem de três”.

Com os comunistas a admitirem “convergência” com o PS, mas com António Costa “sem confiança” na Geringonça, o divórcio poderá estar consumado, mas as prioridades da CDU nesta campanha são outras: “afastar a direita” e recuperar eleitorado depois da queda de 17 para 12 deputados nas legislativas de 2019. Desta vez, apostando mais em Lisboa e Setúbal, mas não esquecendo locais emblemáticos, como a freguesia do Couço, concelho de Coruche, um dos bastiões comunistas na região do Alto Alentejo e Ribatejo.

Campanha da CDU focada entre Lisboa e Setúbal

Nas próximas duas semanas, a CDU, que assume como uma das suas conquistas ter conseguido “um passe social mais barato”, vai fazer passar a caravana por 11 dos 18 distritos do continente. A aposta será mais forte em Lisboa, onde estará cinco vezes, e em Setúbal, onde estará três. Estes são apenas dois dos cinco distritos onde nas últimas legislativas os comunistas perderam um deputado. Nos restantes – Porto, Faro e Braga – está prevista apenas uma ação de campanha.

Em qualquer um dos distritos, o objetivo será o mesmo: segurar o eleitorado que tem vindo a fugir, já que entre as legislativas de 2015 e de 2019, a CDU perdeu em todo o país 115 mil votos.

Em Setúbal, a CDU até se tornou na segunda força política mais votada ultrapassando o PSD, mas perdeu 17 mil votos e um deputado. Já em Lisboa, manteve-se no quarto lugar, mas deixou escapar mais de 27 mil votos e um deputado.

A sul do país, onde concentra grande parte do eleitorado, resta saber se tal como em 2019, a CDU vai continuar a perder terreno em distritos como Beja, Évora e Faro, onde o Chega de André Ventura conseguiu resultados iguais ou superiores a 2%, acima da média de 1,3% que obtém em todo o território.

A campanha vai terminar a norte, com três iniciativas previstas para os concelhos da Maia, Gondomar e Porto e um comício de encerramento em Braga, onde em 2019 a CDU desceu de quarta para quinta força política, perdendo mais de 6 mil votos e o único deputado.

Nem a Covid afasta a CDU dos trabalhadores

Tal como aconteceu na campanha eleitoral para as autárquicas, também agora a campanha das legislativas ficará marcada pela ausência de almoços e jantares. A culpa é da pandemia que não impedirá, no entanto, os habituais comícios e o contacto com os militantes.

Com duas a quatro ações por dia, a CDU vai apostar em 11 comícios quer durante a tarde, quer durante a noite, onde se farão cumprir “as normas sanitárias em vigor para cada sala onde decorrem as ações”, diz à Renascença fonte próxima do partido.

E se dúvidas houvesse que o discurso da CDU assenta na defesa dos trabalhadores e no aumento de salários, a agenda eleitoral dos comunistas não deixa margem para dúvidas.

Na segunda-feira, a manhã da CDU arranca em Lisboa, na Associação dos Deficientes das Forças Armadas, onde antigos combatentes têm lutado pela gratuidade dos transportes públicos, uma medida aprovada há quase ano e meio, mas ainda não concretizada. À tarde, a caravana comunista estará no distrito vizinho de Santarém, sendo praticamente certo que a Casa do Povo do Couço, no concelho de Coruche, será pequena para receber tantos apoiantes.

Desde o 25 de Abril, a freguesia do Couço nunca conheceu outro partido no poder autárquico que não a CDU, e é lá que surgem as mais antigas histórias de luta contra o fascismo e contra a ditadura, passadas de geração em geração. Com uma população muito envelhecida, o concelho de Coruche será palco da sessão “Envelhecer com dignidade”.

Durante duas semanas, a CDU tem previstos encontros com empresários da restauração, em Loures, com agricultores, em Oliveira do Bairro e com profissionais de saúde, no Barreiro ou visitas a Centros de Saúde como o de Messines, em Silves, não fosse uma das lutas do partido o aumento e a fixação de profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a criação de incentivos para a fixação de médicos e enfermeiros em regiões do país mais carenciadas.

Pelo meio, João Ferreira ou João Oliveira, um deles chegará às Caldas da Rainha de comboio, após uma viagem pela Linha do Oeste que a CDU tem insistido que é necessário “modernizar e investir” para garantir mais mobilidade às populações.

Dia do voto antecipado dedicado a pais e crianças

Os comunistas escolheram o dia 23, dia do voto antecipado, para lutar contra o atropelo dos direitos dos pais – especialmente dos pais e mães trabalhadoras – e para promover a natalidade.

Com bandeiras eleitorais como a redução do horário de trabalho para 35 horas semanais, o combate a horários desregulados – que impossibilita o acompanhamento dos filhos – e o aumento geral dos salários, a CDU arranca a manhã de Domingo, em Vila Franca de Xira, com a sessão “O Futuro é CDU: crianças e pais com direitos”.

É também no setor da Educação que a CDU centra as conquistas dos comunistas. De acordo com fonte próxima do partido, no texto que será usado em tempos de antena nesta campanha eleitoral, os comunistas vão sublinhar que “foi o empenho e a persistência da CDU que tornaram possível o que para muitos parecia impossível: passe social mais barato, manuais escolares gratuitos, aumento extraordinário de pensões e creches gratuitas” e que a CDU é “decisiva para afastar a direita” e “decisiva na luta de todos os dias”.

Já nos panfletos que serão entregues aos militantes, a CDU aponta também armas ao executivo de António Costa com o apelo deixado aos eleitores para que “impeçam maiorias absolutas que só servem para liquidar direitos” e com críticas a uma eventual aproximação do PS e do PSD cujas “manobras de concertação estão destinadas a aprofundar a política de direita”.