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O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) reclama um médico e um enfermeiro para cada lar, pois considera que o que se está a passar nestas instituições que acolhem idosos é inqualificável.
Desde março, data do início da pandemia de covid-19 em Portugal, que todos sabem que existe “um grande fator de risco” nos lares, que são “bombas relógio”, afirma Jorge Roque da Cunha em entrevista à agência Lusa.
“Aquilo que está a acontecer em relação aos lares é perfeitamente inqualificável, politicamente é um crime que não tem qualquer explicação”, acusou o líder do SIM.
“Temos um Ministério da Segurança Social (…) que se recusa a olhar para este problema de uma forma séria e obrigar que cada lar tenha um médico e um enfermeiro”, nota, defendendo que, para tal, bastaria que “o suporte da Segurança Social aumentasse um euro por dia para cada utente”.
Critica também as Brigadas de Intervenção Rápida, criadas pelo Governo para apoiar os lares com surtos por não terem médicos em permanência. “Não sei qual é o objetivo, mas com certeza que são necessários”, atirou, questionando quem vai tratar desses doentes.
Os médicos de família, que já tinham dificuldades em dar resposta aos 1.900 utentes que cada um tinha em média para cuidar antes da pandemia, estão ainda apoiar os doentes com covid-19, que são 24.000.
“Nunca houve tantos” casos para acompanhar e ao mesmo tempo têm de recuperar a atividade assistencial nos centros de saúde.
“O Ministério da Saúde não faz nada, nem sequer dá uma palavra aos profissionais de saúde que corajosamente enfrentam o problema”, nota Roque da Cunha, preconizando a necessidade de “medidas concretas” para resolver a situação de um milhão de utentes sem médico de família.
Para Roque da Cunha, os médicos estão “totalmente disponíveis” para ajudar a resolver o problema, mas adverte: “Não estamos [disponíveis] é para ser os bodes expiatórios da incapacidade deste Ministério da Saúde, que eu acuso de uma insensibilidade criminosa”.
Apesar de “muito insatisfeitos”, os médicos sabem que qualquer “manifestação de desagrado”, como uma greve, “não faz qualquer sentido” porque as pessoas estão a sofrer, mas desejavam que “as instituições, o parlamento e o Presidente da República em vez de se preocuparem unicamente em dizer que está tudo bem que fossem realistas”.
“O número de pessoas que morreram, infelizmente, ou que estão incapacitadas estão aí e, por isso, é uma situação de emergência, não é para ser pessimista nem alarmista, e, ao mesmo tempo, há serviços de urgência com grandes dificuldades para garantir os médicos necessários para as suas escalas", critica.
“Infelizmente as coisas estão muito longe de estar controladas e por isso temos de ser muito rigorosos, porque também sabemos que não é possível a economia resistir a um confinamento total”, diz, esperando que as verbas anunciadas por Bruxelas para ajudar o país sejam aplicadas na Saúde.
Para o líder do SIM, é fundamental envolver os setores social e privado, “com regras e preços adequados”, na recuperação da atividade assistencial em atraso, porque “os médicos estão totalmente exaustos”, tendo já ultrapassado em agosto as seis milhões de horas extraordinárias que fazem num ano.
Roque da Cunha defende ainda a constituição uma comissão independente para verificar os erros cometidos na gestão da pandemia e evitá-los no futuro. Sugere que deve haver transparência na aquisição dos meios de combate à pandemia.
“Há uns sinais muito preocupantes destes ajustes diretos. Não somos entidades judiciais, mas exigimos que os nossos impostos” sejam aplicados de uma forma correta, afirma, adiantando que nas áreas dedicadas à covid-19 “existem equipamentos que não estão adequados a esse tipo de trabalho”.
No seu entender, o “grande problema é existir uma falta de liderança por parte do Ministério da Saúde”, que “está mais preocupado em ganhar votos - parece que vai ter eleições para a semana - do que encontrar soluções para a pandemia”.
“Não faz qualquer sentido a senhora ministra da Saúde, sabendo da situação que existe, dizer que hoje o SNS está mais bem preparado do que estava na altura da pandemia”, acusa, ressalvando que há “uma exceção”: o número de ventiladores.
Tirando isso, existem mais pessoas infetadas, falta de equipamento de proteção dos profissionais, milhões de consultas adiadas e listas de espera aumentadas.
Contudo, há soluções: “o Governo despende 110 milhões de euros anualmente nas empresas de prestação de serviço e, por isso, pode contratar médicos, mas dando-lhes condições de trabalho” para evitar o que está a acontecer com o concurso para contratar médicos de família em que “mais de um terço” não está a aceitar ficar no SNS.