"Portugal é um dos países mais seguros do mundo, mas é preciso não viver à sombra da bananeira de uma performance passada", afirmou esta quarta-feira o primeiro-ministro, Luís Montenegro, numa declaração ao país para fazer um balanço da operação "Portugal Sempre Seguro".
O primeiro-ministro falava na residência oficial, no Palácio de São Bento, após uma reunião com as ministras da Administração Interna, Margarida Blasco; com a ministra da Justiça, Rita Júdice, o diretor nacional da Polícia Judiciária, o comandante-geral da GNR, o diretor nacional da PSP e o secretário-geral adjunto do Sistema de Segurança Interna.
Na declaração ao país, partir da residência oficial, em São Bento, o chefe do Governo afirmou que "não podemos deixar crescer sentimentos de insegurança, fenómenos criminais graves".
O primeiro-ministro respondia a uma pergunta dos jornalistas sobre a forma como o Governo está a lidar com a criminalidade e se isso não contribui para aumentar o sentimento de insegurança.
“Não escolhi a hora em função de nada especial e a conferência de imprensa que estamos a realizar visa dar nota do nosso trabalho e das nossas decisões e da forma como estão a ser implementadas e, por via disso, tranquilizar o país. Não vejo que possa ser dado um entendimento contrário, quando nós estamos a comprovar uma ação concertada entre forças policiais com vista a poder ser mais eficiente e poder tranquilizar mais a população, que isso possa ser lido como o agravamento de um sentimento de segurança", respondeu.
O chefe do Governo considera que "temos de realizar ações conducentes a garantir que no futuro teremos ainda mais condições de segurança, menos ocorrência de criminalidade e também menos perceção de que a segurança possa estar em causa".
"Estamos atentos ao que se passa na nossa sociedade, damos uma palavra de confiança, reconhecer excelência dos serviços de segurança, e queremos junto da população portuguesa dizer que, sendo um país seguro, não podemos deixar crescer sentimentos de insegurança, fenómenos criminais graves, temos de tudo fazer para melhorar aquele que tem sido o desempenho na matéria da salvaguarda dos direitos das pessoas, das liberdades", reforçou.
O líder do PS, Pedro Nuno Santos, acusou esta quarta-feira o primeiro-ministro de adotar um discurso securitário e de estar a fazer isso por causa do Chega.
“Limitamo-nos a ouvir e a registar. O nosso foco não é trabalhar para as oposições, é trabalhar para as populações, para as pessoas”, respondeu Luís Montenegro.
Questionado se planeia fazer alguma visita aos bairros da Grande Lisboa afetados pelos tumultos após a morte de Odair Moniz, num dia em que o Presidente da República anunciou ter almoçado com o seu homólogo de Cabo Verde na Cova da Moura, Montenegro respondeu que os membros do executivo “estão no terreno todos os dias” e recordou que o Governo já reuniu com os presidentes das Câmaras Municipais destes municípios e com as associações representativas dos moradores nesses bairros.
Duas redes desmanteladas e mais 20 milhões para PSP e GNR
No âmbito da operação "Portugal Sempre Seguro", iniciada a 4 de novembro, foram realizadas até agora mais de 170 operações, que envolveram mais de 4.000 efetivos das forças de segurança, anunciou Luís Montenegro.
Duas redes de imigração ilegal e tráfico humano foram desmanteladas.
"Mais de 7.000 pessoas e 10 mil viaturas foram fiscalizadas. Foram levantados mais de 2 mil autos de contraordenação, realizadas diversas apreensões e foram desmanteladas duas redes de imigração ilegal e de tráfico de pessoas. Além de algumas detenções, foram libertadas pessoas que estava a sob alçada desta redes", salientou o primeiro-ministro.
Luís Montenegro anunciou ainda 20 milhões de euros para a aquisição de mais de 600 viaturas para a PSP e a GNR. A verba será aprovada no Conselho de Ministros de quinta-feira.
O Governo vai também continuar a apostar na valorização das carreiras dos profissionais das forças de segurança, garantiu.
Questionado pelos jornalistas se mantém a confiança na ministra da Administração Interna após a morte de Odair Moniz e depois da polémica em torno das declarações sobre o direito à greve, o primeiro-ministro falou de Margarida Blasco como uma ministra "excecional".
“Com certeza que todos os membros do Governo têm a minha confiança plena para o exercício das suas funções e estão na plenitude da sua ação. Em particular a senhora ministra da Administração Interna e a senhora ministra da Justiça estão a fazer um trabalho excecional em relação aos desafios que temos pela frente e que têm de ser ultrapassados com base em decisões e em ações”.
A declaração acontece no dia em que foi noticiado que a Polícia Judiciária (PJ) deu cumprimento a vários mandados de busca no concelho de Loures, distrito de Lisboa, envolvendo "vários suspeitos" do incêndio num autocarro em Santo António dos Cavaleiros que em outubro feriu gravemente o motorista.
Os suspeitos são alegadamente os responsáveis pelo incêndio e ataque direto contra um autocarro em Santo António dos Cavaleiros, em Loures, durante a onda de tumultos gerada na Área Metropolitana de Lisboa pela morte de Odair Moniz, baleado por um agente da PSP no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, há cerca de um mês.
O cabo-verdiano Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois.
Nos tumultos que sucederam à sua morte, nos dias seguintes, foram incendiados mais autocarros, dezenas de automóveis e contentores do lixo, mas o ataque que deixou em estado grave o motorista é o mais grave em investigação.