O Papa Francisco propôs esta tarde uma reflexão sobre a unidade dos cristãos a partir de “três círculos concêntricos, como os de um tronco”.
Apesar de uma crise de ciática o ter obrigado a cancelar a sua presença nesta celebração ecuménica na basílica de São Paulo, Francisco pediu ao cardeal Kurt Koch, responsável da Santa Sé pela promoção da unidade dos cristãos, para ler a homilia que tinha preparado.
O primeiro círculo a caminho da unidade, o mais interno, “é o permanecer em Jesus”, considera o Papa. “Na realidade mutável e complexa de hoje, arrastados daqui e dali, é fácil perder a linha. Muitos sentem-se intimamente divididos, incapazes de encontrar um ponto firme, uma estrutura estável nas circunstâncias variáveis da vida”.
Por isso, “o segredo da estabilidade é permanecer n’Ele”, garante o Papa. Mas para permanecer em Deus “precisamos da oração, como de água, para viver”, tal como “o ramo que toma a seiva do tronco”.
O segundo círculo é o da própria unidade com os cristãos. “Somos ramos da mesma videira, somos vasos comunicantes: o bem e o mal que realiza cada um reverte-se sobre os outros”, sublinha o Papa. De facto, o Corpo de Jesus é “composto de muitos membros, tantos quantos são os batizados” e “se a nossa adoração for genuína, cresceremos no amor por todos aqueles que seguem Jesus, independentemente da comunhão cristã a que pertençam, porque, mesmo se não são ‘dos nossos’, são d’Ele”.
O Papa bem sabe que “amar os irmãos não é fácil, porque apresentam-se imediatamente os seus defeitos e as suas faltas, e voltam à mente as feridas do passado”. Com antídoto contra a divisão, Bergoglio propõe pedir a Deus “para cortar em nós os preconceitos contra os outros e os apegos mundanos que impedem a plena unidade com todos os seus filhos” e que, ainda hoje “nos desviam do Evangelho”.
Por fim, “o terceiro círculo da unidade, o mais largo, é a humanidade inteira.” Francisco volta a usar o exemplo evangélico do bom samaritano para nos recordar que “o próximo não é só quem partilha os nossos valores e ideias, mas que somos chamados a fazer-nos próximo de todos, bons Samaritanos duma humanidade vulnerável, pobre e sofredora – hoje, tão sofredora –, que jaz por terra nas estradas do mundo e que Deus, na sua compaixão, deseja levantar”. E conclui: “É pelos frutos que se reconhece a árvore, pelo amor gratuito, se reconhece se pertencemos à videira de Jesus.”
Neste caminho para a unidade, Francisco aponta duas vertentes concretas onde também é possível “caminharmos juntos e descobrirmo-nos irmãos”, independentemente da comunidade cristã a que cada um pertence: no serviço aos mais pobres e necessitados; e no cuidado da nossa casa comum”.