O chefe de Estado angolano, João Lourenço, diz que Luanda ainda aguarda o envio do processo judicial envolvendo o ex-vice-Presidente Manuel Vicente por Portugal, mas assume aguardar, ansiosamente, a visita do primeiro-ministro português.
A posição foi expressa pelo Presidente e pelo chefe do Governo angolano numa entrevista emitida pela Euronews, no âmbito da visita oficial de João Lourenço a França, entre 28 e 30 de maio, e antes de visitar a Bélgica, entre 4 e 5 de junho.
"As relações com Portugal vão bem. Estamos ansiosos em receber o primeiro-ministro, António Costa, em Luanda. A nível dos ministros das Relações Exteriores, os dois países estão a acertar datas, e isso vai acontecer a todo o momento", afirmou João Lourenço.
O desanuviamento das relações entre Angola e Portugal surgiu após o Tribunal da Relação de Lisboa ter decidido, em maio passado, enviar o processo que envolve o ex-vice-Presidente angolano Manuel Vicente para julgamento em Luanda, um caso que há vários meses estava a causar mal-estar nas relações entre os dois países.
O Governo angolano exigia o cumprimento dos acordos internacionais e o envio do processo para julgamento em Luanda, pretensão que mais de cinco meses depois do início do julgamento, em Lisboa, teve o aval do tribunal.
"Eu dizia, na minha primeira grande entrevista, no início do corrente ano, que nós não pretendemos lavar, digamos, a imagem do engenheiro Manuel Vicente, se é que ela está suja. A acusação de que ele praticou um crime, tem a presunção de inocência, tão logo recebamos o processo de Portugal as entidades competentes da Justiça vão prosseguir com o processo", disse ainda, nesta entrevista, o chefe de Estado angolano.
Durante a visita a Paris, João Lourenço, manifestou, no Palácio do Eliseu, o interesse de Angola em ser membro da Organização Internacional da Francofonia e recebeu o apoio do seu homólogo francês, Emmanuel Macron.
Para o Presidente angolano, pode mesmo seguir-se um pedido idêntico à Commonwealth, comunidade que junta os países anglófonos.
"A exemplo do que se passa com Moçambique, que está ali encravado entre países anglófonos (...) e acabou por aderir à Commonwealth, também Angola está cercada, não por países lusófonos, mas por países francófonos e anglófonos. Portanto, não se admirem que estejamos a pedir agora a adesão à francofonia e que daqui a uns dias estejamos a pedir também a adesão à Commonwealth", apontou.
Sobre exonerações de Isabel dos Santos da liderança da petrolífera Sonangol, em novembro, e de José Filomeno dos Santos, no Fundo Soberano de Angola, em janeiro, João Lourenço disse que não foram exonerado dos cargos por serem filhos do ex-Presidente, José Eduardo dos Santos.
"Eu não mexi em filhos do ex-Presidente, mexi em cidadãos angolanos. São cidadãos angolanos, estão sujeitos, tanto como os outros, às mesmas regras. Nesses oito meses não foram exoneradas apenas duas pessoas", disse, na mesma entrevista ao canal europeu.