"Nada disto faz sentido". É desta forma que Ana Sofia Carvalho comenta a retirada da palavra "fatal" da nova versão do projeto de despenalização da morte medicamente assitida, apresentada esta terça-feira no Parlamento.
O texto dos socialistas passa contar com as formulações "doença grave e incurável" e "doença que ameaça a vida, em fase avançada e progressiva, incurável e irreversível, que origina sofrimento de grande intensidade" para validar a prática da eutanásia.
Em declarações à Renascença, a professora de Bioética da Universidade do Porto considera que as alterações ao projeto socialista não respondem às preocupações expressas pelo Presidente da República, aquando do veto do diploma sobre a morte medicamente assistida.
"Nada disto faz sentido, é uma coisa muito estranha. E, depois, quando dizem que só doença grave, incurável e irreversível, que origina sofrimento de grande intensidade, isto aplica-se a todos os casos oncológicos", exemplifica.
Ana Sofia Carvalho questiona, mesmo, "como é que o senhor Presidente sublinha em todo o documento que passar para lá da doença grave é algo que lhe parece que está completamente ao arrepio do que é a vontade geral e a proposta do PS é deixar cair o conceito de doença fatal?"
Neste cenário, esta especialista defende a necessidade de um debate no Parlamento sobre esta matéria: "Se há uma mudança tão radical no que é, segundo o senhor Presidente, o sentir da sociedade portuguesa, tem de haver debate parlamentar, não pode ser feito sem debate".
Critica, ainda o que diz ser a contradição do líder parlamentar socialista que, depois de, no início da legislatura, ter criticado o Bloco de Esquerda "dizendo que o partido parecia o cowboy Lucky Luke por ter avançado mais rápido do que a sua própria sombra para uma proposta de uma lei de morte medicamente assistida" veio, em menos de uma semana , em entrevista à Renascença e ao jornal 'Público', "desmentir tudo o que tinha dito na semana anterior e dizer que, realmente, isto era uma matéria absolutamente prioritária".
"É impressionante!", conclui.