É o assunto que domina as conversas do Summer Cemp, uma semana de debates e conversas para jovens organizado pela representação da comissão europeia em Portugal: o Brexit. Seja nas sessões com os convidados, seja à mesa do jantar à beira do grande lago do Alqueva, a saída do Reino Unido da União Europeia é uma preocupação e uma dúvida acentuadas esta quarta-feira com o anúncio da suspensão do Parlamento inglês.
O anúncio coincidiu com a participação de Julian King, o inglês que é comissário europeu para a Segurança, neste Summer Cemp, que decorre até sexta-feira em Monsaraz.
Quando entrou para a comissão europeia, já depois do Brexit, Julian King tinha noção de que seria o ultimo comissário britânico. Foi substituir Jonathan Hill, que tinha a pasta dos serviços financeiros e se demitiu na sequência do referendo em que os britânicos escolheram sair da União Europeia. Com a mudança de comissários, os serviços financeiros passaram para Valdis Dumbrovskis, que já tinha a pasta do euro. E o novo nome indicado pelo Governo inglês ficou responsável pela segurança da União.
Julian King, encara, portanto, a condição de ser o último comissário inglês com normalidade. Com a mesma normalidade com que parece encarar a suspensão do Parlamento inglês.
“Não estou aqui como porta-voz do governo britânico, jurei servir os interesses europeus na comissão e é isso que tenho feito nos últimos anos”, começou por dizer em resposta aos jornalistas, depois da sessão com os participantes do Summer Cemp. Mas logo prosseguiu: “Como cidadãos britânico, é normal que uma sessão parlamentar termine e outra comece e também é normal que se debata muito à volta destes assuntos e acho que é isso que vai acontecer no Parlamento na próxima semana.”
Na conversa com os participantes do Summer Cemp, na sua maioria estudantes de estudos europeus, relações internacionais e comunicação social, Julian King, falou sobretudo das novas ameaças que as redes sociais e o mundo digital representam.
Reconhece que depois do Brexit a cooperação do Reino Unido com os outros países da União terá de mudar, mas espera que continue a haver uma colaboração próxima na defesa contra ameaças comuns.
“Vim cá falar sobre a importância de trabalharmos juntos para defender os nossos valores comuns de ameaças como o terrorismo, os ciberataques, a desinformação, vindos de quem quer minar as nossas estruturas, a forma como vivemos e os valores que partilhamos. Somos mais fortes quando trabalhamos juntos – isso é verdade hoje e será verdade no futuro”, acredita o comissário, que reconhece, contudo, que “a cooperação que tem existido entre o Reino Unido e alguns membros da União Europeia não pode continuar nos mesmos termos quando Reino Unido deixar a União Europeia”.
Ainda assim, Julian King espera que seja possível manter a cooperação. “Se houver um acordo, também haverá uma oportunidade para falar de como será essa relação no futuro, como trabalharemos juntos numa base diferente, mas tendo como objetivo uma cooperação o mais próxima possível contra ameaças comuns”, disse, em Monraraz, o último comissário britânico.