António Costa e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, querem trabalhar juntos para uma recuperação económica justa, verde e digital, disseram esta segunda-feira os dois líderes em conferência de imprensa conjunta, em Lisboa.
Costa, que enquanto primeiro-ministro português assume a presidência da União Europeia durante os próximos seis meses, diz que a primeira prioridade do semestre será a recuperação económica. “Depois do extraordinário trabalho da presidência alemã agora é tempo de agir para assegurar uma recuperação justa, verde e digital”, afirmou.
“Para isso é fundamental garantir que os parlamentos nacionais aprovem o aumento do teto dos recursos próprios da UE, que o Parlamento Europeu aprove o regulamento do fundo de resolução e concluir a aprovação dos 27 planos de recuperação, que assentará em dois pilares fundamentais: a transição climática e a transição digital, que são oportunidades e não obstáculos”, complementou o primeiro-ministro.
O primeiro-ministro português quer ainda uma Europa “mais presente nas cadeias de valor, mas que recusa o protecionismo e continua aberta ao mundo, de uma forma plural, desenvolvendo as suas parcerias”.
António Costa falou ainda da importância da vacinação contra a Covid-19, sublinhando que a recuperação económica não vai depender só da aprovação de planos a nível nacional e europeu, mas sobretudo da confiança gerada por uma campanha de vacinação que só é possível porque a União Europeia investiu nela em conjunto.
“A aquisição conjunta de vacinas foi das decisões mais importantes que a UE tomou no ano passado”, disse.
“Termos conseguido assegurar que as vacinas eram fornecidas simultaneamente a todos os Estados-membros de acordo com a sua população foi um momento fundamental de aproximação entre UE e cidadãos, para todos os cidadãos compreenderem bem a mais-valia que a UE constitui.”
“Não temos que andar agora, como andámos no princípio desta crise, a guerrear para ter máscara e gel. Desta vez, todos tiveram acesso a vacinas de forma justa em função da sua população”, concluiu Costa, descrevendo este facto como um período único na história da humanidade.
Pilar social como vacina contra populismos
António Costa referiu ainda a importância de se desenvolver o pilar social da União Europeia.
“Precisamos de uma base sólida, para dar confiança a todos para enfrentar os desafios da transição climática e digital”, considera, acrescentando a necessidade de “investir nas qualificações, na inovação, garantir proteção social para que estas transições sejam uma oportunidade para todos e que ninguém fique para trás.”
Questionado sobre a tradicional oposição de Estados-membros europeus mais liberais (casos da Irlanda ou da Holanda) a um aprofundamento de regras de caráter social na União Europeia, o primeiro-ministro português defendeu a importância da cimeira social prevista para 7 de maio no Porto, onde se procurará um compromisso comum em torno do pilar social.
"No dia seguinte, no dia 8 de maio, também no Porto, haverá um Conselho informal, onde será trabalhada uma declaração que reafirme o compromisso de todos os Estados-membros no sentido de desenvolver este pilar social - um pilar que não vale por si só, mas que deve ser encarado como uma base sólida para dar confiança a todos os cidadãos", reagiu António Costa.
De acordo com o primeiro-ministro, a União Europeia enfrenta os desafios das transições climática e digital "e ninguém deve ficar para trás".
"O medo é aquilo que mais alimenta o populismo. Se queremos combater o populismo de forma eficaz, temos de dar confiança aos cidadãos - confiança perante aquilo que são os receios", sustentou.
No presente, António Costa apontou a doença da covid-19 como o principal receio manifestado pelos cidadãos, razão pela qual o processo de vacinação em curso na União Europeia "é fundamental".
"Mas há também outros receios. As pessoas têm receio que com a digitalização o seu posto de trabalho seja ocupado por um robô, e têm medo de que com a transição climática haja impacto em indústrias tradicionais como a do automóvel. Temos também de nos vacinar contra esses medos", argumentou.
Para António Costa, uma das vacinas contra o medo passa pela existência "de um pilar social forte" na União Europeia, que dê prioridade "às qualificações e às requalificações dos cidadãos".
"Temos de investir na inovação para que haja maior competitividade, mas também tem de haver proteção alargada para que ninguém fique para trás e todos participem na sociedade do futuro, que se pretende mais sustentável do ponto de vista ambiental e mais digital", acrescentou.
[Notícia atualizada às 20h39]