O Papa Francisco condenou desde a primeira hora a entrada de forças russas na Ucrânia. A preocupação com a “loucura da guerra” levou-o a 25 de fevereiro, logo no dia seguinte à invasão, a deslocar-se pessoalmente à embaixada da Rússia na Santa Sé, “evidentemente para exprimir a sua preocupação com a guerra”, indicou uma breve nota da Sala de Impresa do Vaticano.
Nos dias seguintes o Papa desdobrou-se em contactos e apelos. Na sexta-feira falou ao telefone com o chefe da Igreja Católica Grega Ucraniana, Sviatoslav Shevchuk, a quem garantiu que faria “tudo o que pudesse”; sábado ligou ao presidente ucraniano, para manifestar a “mais profunda dor perante os trágicos eventos”, e Volodymyr Zelenskyi agradeceu o apoio do Papa.
Francisco recorreu ainda às redes sociais para apelar à paz, contra a “loucura da guerra” e pedir orações para a Ucrânia. “A guerra é o falhanço da política e da Humanidade, uma vergonhosa capitulação, uma pungente derrota diante as forças do mal", escreveu no Twitter.
A 27 de fevereiro, primeiro domingo após o início da guerra, o Papa renovou o apelo ao fim do conflito. “Calem-se as armas!", afirmou, defendendo a abertura de corredores humanitários. E convidou os cristãos a cumprirem um dia de oração e jejum pela paz a 2 de março.
No arranque da Quaresma, que começou precisamente a 2 de março, foi anunciado que Francisco tinha enviado material médico para apoiar os refugiados da guerra na Ucrânia, em resposta a um pedido de ajuda da comunidade ucraniana em Itália.
Diplomacia discreta
Também o Secretário de Estado do Vaticano se tem desdobrado em contactos tendo em vista o fim da guerra. Logo a 28 de fevereiro o cardeal Pietro Parolin garantiu que o Vaticano estava pronto para “facilitar o diálogo” entre Rússia e Ucrânia. Em declarações aos media italianos, o responsável pela diplomacia da Santa Sé considerou que se o conflito se alastrar e envolver diretamente outros países europeus será uma “catástrofe gigantesca”.
Já esta semana conversou ao telefone com o ministro russo dos negócios estrangeiros, Sergei Lavrov, a quem manifestou a "profunda preocupação" do Papa assim como a disponibilidade da Santa Sé para mediar conflito.
Quarta-feira à noite, à margem de uma conferência em Roma, Parolin revelou que do contacto com Lavrov não saiu qualquer garantia em relação aos corredores humanitários, e manifestou-se consternado com o ataque contra o hospital-maternidade em Mariupol, que considerou “inaceitável”.
Já esta quinta-feira o chefe da diplomacia do Vaticano reiterou a urgência de se iniciarem negociações para encontrar uma solução para esta “guerra cruel”, que tem de ser parada.
No terreno estão esta semana os enviados especiais do Papa. O cardeal Michael Czerny, do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral - que tem estado na Hungria, a acompanhar a resposta humanitária aos refugiados da guerra -, e o cardeal Konrad Krajeswki, Esmoler Pontíficio (responsável pelas obras de caridade do Papa), que partiu para a Polónia, mas está já na Ucrânia.
Esta quinta-feira, em entrevista à Renascença em Lviv, o cardeal Krajewski diz que “é sempre o momento certo para dialogar” e que a fé "pode parar esta guerra". Do Vaticano veio a ordem para falar com greco-católicos e ortodoxos e já esta quinta-feira haverá uma oração ecuménica em Lviv.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 516 mortos e mais de 900 feridos entre a população civil e provocou a fuga de mais de 2,1 milhões de pessoas para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.