Papa: “A inquietação das perguntas é o que nos leva a Deus”
06-01-2023 - 10:30
 • Aura Miguel

Na eucaristia da Epifania, Francisco citou Bento XVI para sublinhar que “'o peregrinar exterior dos Magos era expressão deste estar interiormente a caminho, da peregrinação interior do seu coração'” e , por isso, “aventuram-se numa viagem arriscada que não prevê, à partida, estradas seguras nem mapas definidos”.

O caminho da fé implica “dar espaço às inquietações que nos mantém acordados”, disse esta sexta-feira o Papa. Foi o que fizeram os Reis Magos, que se desinstalaram e puseram a caminho em busca de uma resposta plena.

É bom não se contentar com “a tranquilidade dos nossos hábitos, mas envolvermo-nos nos desafios de cada dia, deixar um espaço neutro e habitar os espaços incómodos da vida, feitos de relações com os outros, surpresas, imprevistos, medos a enfrentar, sofrimentos que escavam na carne”, afirmou Francisco durante a homilia da missa da Epifania.

É através das “perguntas irreprimíveis” do coração, como por exemplo, “Onde está a felicidade? Onde está a vida plena a que aspiro?” ou “Quais são as oportunidades escondidas dentro das minhas crises e tribulações?” que Deus pode entrar na nossa vida, como aconteceu com os Reis magos.

Francisco citou Bento XVI para sublinhar que “«o peregrinar exterior dos Magos era expressão deste estar interiormente a caminho, da peregrinação interior do seu coração»” e , por isso, “aventuram-se numa viagem arriscada que não prevê, à partida, estradas seguras nem mapas definidos”.

Sem tranquilizantes, nem cofres

“O clima que diariamente respiramos oferece «tranquilizantes da alma», substitutos para acalmar a nossa inquietude e apagar estas perguntas. Desde os produtos do consumismo até às seduções do prazer, desde os debates elevados a espetáculo até à idolatria do bem-estar... tudo parece dizer-nos: não penses demais, deixa andar, goza a vida!”, denuncia o Papa. “Muitas vezes procuramos arrumar o coração no cofre da comodidade, mas, se os Magos tivessem feito assim, nunca teriam encontrado o Senhor. Com efeito, Deus habita nas nossas perguntas inquietas”.

O Santo Padre acrescentou ainda que “de nada adianta atarefar-nos pastoralmente, se não colocamos Jesus no centro, adorando-O.” E isso significa “adorar a Deus e não o nosso eu; adorar a Deus e não os falsos ídolos que nos seduzem com o fascínio do prestígio e do poder; nem nos prostrarmos diante das coisas que passam e das lógicas sedutoras, mas vazias, do mal”.