Biólogos marinhos identificaram em golfinhos um comportamento que sugere que se esfregam deliberadamente em certas espécies de corais flexíveis pelas suas propriedades medicinais.
A investigação publicada esta quinta-feira na revista científica iScience propõe que os golfinhos-roazes do Indo-Pacífico também contraem doenças dermatológicas mas que "fazem fila para se esfregarem em corais" que ajudam a restaurar as propriedades da pele e a prevenir infeções.
A bióloga marinha Angela Ziltener, co-autora principal do estudo e investigadora na Universidade de Zurique, na Suíça, observou há 13 anos este comportamento em golfinhos no norte do Mar Vermelho, ao largo da costa do Egito, reparando que os animais o faziam com determinados tipos de corais, de um grupo da ordem 'Alcyonacea' conhecido como 'gorgónias': "era óbvio que sabiam exatamente que tipo de coral pretendiam usar".
Com a sua experiência de mergulho, conseguiu conquistar a confiança dos animais e descobrir que ao esfregar o corpo contra os corais, estes libertavam muco, que os cientistas recolheram para analisar.
A química Gertrud Morlock, principal autora do estudo e investigadora da universidade alemã Justus Liebig, e a sua equipa descobriram nos corais escolhidos pelos golfinhos propriedades antibacterianas e antioxidantes, entre outras, que pensam servir para regular o microbioma da pele dos animais: "estes metabolitos podem ajudá-los a atingir a homeoestase (equilíbrio) da pele e ser úteis na profilaxia e tratamento de infeções microbianas".
Os recifes de corais são lugares importantes para as populações de golfinhos, que os usam para descansar e brincar. "Quando estão acordados, esfregam-se nos corais quase como se estivessem a lavar-se antes de ir dormir ou a prepararem-se para um novo dia", afirma Ziltener.
"A indústria do turismo faz muito dinheiro com os golfinhos. As pessoas anseiam por nadar com golfinhos, por isso a indústria procura perceber quais os recifes que usam. As pessoas acabam por perturbar os golfinhos se não seguirem as regras para se aproximarem deles de forma responsável", afirma a bióloga, que fundou um grupo que visa alertar guias e turistas para as regras e tenta fazer com que os recifes sejam declarados áreas protegidas.