A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) anunciou esta quinta-feira uma nova equipa de acompanhamento às vítimas de abuso sexual e que está a apoiar financeiramente o tratamento de três dezenas de vítimas.
Chama-se “Grupo VITA – Grupo de Acompanhamento das Situações de Abuso Sexual de Crianças e Adultos Vulneráveis no Contexto da Igreja Católica em Portugal” e terá como missão “acolher, escutar, acompanhar e prevenir” estes casos, “dando atenção às vítimas e aos agressores”.
A nova equipa de trabalho, anunciada esta quinta-feira pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que surge depois da Comissão Independente liderada por Pedro Strecht, terá um mandato de três anos e será presidida pela psicóloga Rute Agulhas, um nome que tinha sido apontado a semana passada pelos bispos portugueses.
Contará também com os psicólogos Ricardo Alexandre, Alexandra Anciões e Joana Alexandra, o assistente social Jorge Neo Costa e a psiquiatra Márcia Mota.
Do grupo consultivo, fazem parte o padre João Vergamota, especialista em direito canónico, a professora universitária Helena Carvalho e um jurista, cujo nome está ainda por definir. A apresentação pública está marcada para 26 de abril.
“Agora entramos numa outra fase. Esta equipa é fundamental para acolher, acompanhar e tornar possível a reparação destas pessoas na medida do possível. É fundamental que saibam que da parte da Igreja não há atitude de defender-se, mas de objetivar o que aconteceu … e [fazer] também do ponto de vista económico aquilo que for necessário”, afirmou o presidente da CEP, D. José Ornelas, em conferência de imprensa.
"Gostaríamos de contar com a capacidade profissional destas pessoas para criar um sistema de formação e prevenção. Não é para ficar para as calendas", sublinha.
D. José Ornela explicou que o novo Grupo VITA tem um mandato de três anos, "para criar estruturas que possam capacitar a Igreja". "O próprio grupo diz que não se quer perpetuar como estrutura permanente", disse aos jornalistas.
O presidente reeleito da Conferência Episcopal explica que esta é "também é uma comissão articulada com o tecido da Igreja, seja com a coordenação nacional, seja com as equipas diocesanas".
Trinta pessoas apoiadas financeiramente para tratamento
O também bispo de Leiria-Fátima garante que "a ninguém vai faltar apoio financeiro da Igreja".
D. José Ornelas adianta que há "cerca de 30 pessoas a serem apoiadas financeiramente para tratamento".
"Não vamos dar estatísticas. [As vítimas] vão ter um acompanhamento real. A Igreja esta disponível para receber pessoas que foram vítimas de ajuda, que precisam de ajuda – e vão tê-la."
O presidente da CEP reforça que a Igreja "está disponível para ir ao encontro das pessoas e encontrar reparação para os danos" e assumir "as responsabilidades que possamos ter".
Já o porta-voz da CEP, o padre Manuel Barbosa, garantiu que os bispos portugueses estão "empenhados em prosseguir um caminho de reparação e prevenção para que seja possível garantir o devido apoio às vítimas e implementar uma cultura de cuidado e proteção dos menores e adultos vulneráveis nos nossos ambientes, contribuindo para erradicar este drama da sociedade”.
De acordo com a CEP, o Grupo VITA “terá a necessária autonomia para, em articulação com a Equipa de Coordenação Nacional, desenvolver uma ação que contribuirá para capacitar, ainda mais, o valioso trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelas Comissões Diocesanas no acolhimento e acompanhamento das vítimas, bem como na formação preventiva dos agentes pastorais”. Está também previsto que seja elaborado um Manual de Prevenção comum a toda a Igreja em Portugal.
Os bispos deixaram também “uma palavra de grande proximidade a todos os fiéis leigos e consagrados, mas especialmente aos sacerdotes, reconhecendo o seu inestimável serviço às pessoas e comunidades”. “Caminhamos unidos na dor, mas também na esperança de que todos estes processos nos conduzam a uma Igreja purificada e renovada, fiel ao Evangelho do Senhor Jesus”, afirmou.
Em relação aos seminários, a CEP indica que “foi aprovada a nova versão da Ratio Nationalis Institutionis Sacerdotalis “O Dom da Vocação Presbiteral”, que inclui um capítulo sobre “o seminário e a cultura de prevenção e vigilância no que respeita aos abusos”.
O documento entrará em vigor após devido reconhecimento do Dicastério para o Clero.
Soluções para os problemas da escola, saúde e transportes
Na conferência de imprensa que assinala o fim da assembleia plenária dos bispos, que começou na segunda-feira, a Conferência Episcopal voltou também a manifestar “preocupações sociais quanto às graves dificuldades por que passam os cidadãos, famílias e instituições”.
Os bispos portugueses defendem que as medidas do Governo para atenuar os rendimentos, “que não são estruturantes, deveriam seguir o critério da proximidade para assegurar a justiça”.
“É desejável que seja encontrada a solução para os problemas relativos à escola (professores), à saúde (médicos, enfermeiros e gestão dos hospitais) e aos transportes públicos, em prol do bem comum”, afirmou o padre Manuel Barbosa.
[notícia atualizada às 16h26]