Os líderes religiosos das comunidades católica, evangélica e muçulmana da Guiné-Bissau pediram esta sexta-feira, em conferencia de imprensa conjunta, à população guineense para demonstrar “espírito patriótico e elevado grau de civismo” nas eleições presidenciais de 24 de novembro, apelando igualmente à participação “ativa e democrática” durante todo o processo.
O Bispo da diocese de Bissau, D. Camnaté na Bissign, falando em nome dos vários lideres religiosos, disse que o apelo estende-se também aos candidatos, pedindo-lhes que saibam “encarnar os nobres ideais da política” e traduzi-los em projetos concretos e desenvolvimento para o país.
“Que durante a campanha eleitoral saibam propor mensagens de reconciliação, de unidade, de solidariedade e demais valores que enaltecem a dignidade humana e satisfazem as exigências da democracia representativa. Que os candidatos, diante dos resultados eleitorais, saibam aceitá-los com um espírito de ‘fair play’ democrático. E que, em caso de contestação, recorram unicamente às vias legais”, apelou D. Camnaté na Bissign.
O Bispo de Bissau pede ainda aos órgãos de soberania que, durante todo o processo eleitoral, “se pautem pelo estrito cumprimento das Leis da República”, para que o povo “acredite mais na democracia e possa exprimir as suas opções de maneira responsável”.
Os lideres religiosos exortam igualmente a comunidade internacional a continuar a “manifestar a sua solidariedade” para com o povo da Guiné-Bissau.
A União Europeia condenou na passada quarta-feira a “tentativa ilegal” do Presidente guineense em demitir o Governo da Guiné-Bissau, a seu ver o "único e legítimo poder executivo" no país, pedindo a realização de eleições presidenciais "livres e justas".
"A tentativa ilegal de demitir o primeiro-ministro [Aristides] Gomes e o seu governo atrapalha o processo eleitoral em curso na Guiné-Bissau. O Governo, cujo programa foi recentemente aprovado por maioria parlamentar, é o único e legítimo poder executivo do país, apoiado por parceiros regionais e internacionais", afirmou, em comunicado, a porta-voz da diplomacia europeia, Maja Kocijancic. Numa declaração a propósito dos desenvolvimentos políticos da Guiné-Bissau, a responsável vincou que, "a fim de preservar a estabilidade e o desenvolvimento sustentável, o ciclo eleitoral deve ser continuado com as eleições presidenciais previstas para 24 de novembro".
O governo português anunciou também que reconhece como legítimo o Governo de Aristides Gomes.
Esta sexta-feira, os líderes religiosos da Guiné-Bissau lembraram que o resultado das eleições legislativas de 2014, e as ações de governação subsequentes, tinham suscitado um grande entusiasmo e “alimentado a esperança do povo durante algum tempo”. “Infelizmente, constatamos com tristeza, tal esperança transformou-se em incertezas e desilusão, devido à instabilidade instalada no país até à data presente. Este facto tem constituído um bloqueio à evolução política, económica e social, rumo a um real crescimento”, defendem.
A campanha eleitoral para as eleições presidenciais começa no sábado, numa altura em que o país vive mais um momento de grande tensão política, depois de o Presidente guineense e candidato às presidenciais, José Mário Vaz, ter demitido na segunda-feira o Governo liderado por Aristides Gomes. No dia seguinte, o Presidente nomeou Faustino Imbali, do Partido de Renovação Social (PRS), primeiro-ministro.
O decreto presidencial que demitiu o Governo de Aristides Gomes não foi reconhecido pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). A CEDEAO, que tem mediado a crise política no país, considerou o decreto do Presidente ilegal, reiterou o apoio a Aristides Gomes e admitiu a possibilidade de impor sanções a quem criar obstáculos ao processo de organização das presidenciais, marcadas para 24 de novembro.