A Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e no Parto apelou esta quinta-feira para que a Direção-Geral de Saúde (DGS) reveja as orientações definidas para as instituições hospitalares, afirmando estar a receber “muitos pedidos de ajuda” de grávidas.
“O nosso objetivo é que se reveja as orientações, que dão autonomia aos serviços hospitalares para se organizarem conforme conseguem, mas a verdade é que assim que a DGS muda as suas políticas, os hospitais mudam também, ou seja, a DGS diz que cada hospital organizar-se-á como for mais conveniente e os serviços dizem que a DGS ainda não mudou as orientações”, afirmou a fundadora da associação.
Em declarações à Lusa, Sara do Vale explicou hoje que a associação enviou, no dia 21 de agosto, uma carta à DGS solicitando um pedido de audiência e a clarificação das orientações, decorrentes devido à covid-19, para as mulheres grávidas e o parto, mas que até ao momento não recebeu “nenhuma resposta”.
“Gostaríamos de saber se a DGS está a par da situação real, nomeadamente se as atuais políticas hospitalares estão alinhadas com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e pedidos das utentes, assim como o que está a ser feito ou se há planos para que se recomende que as instituições ajustem as suas políticas”, questiona a instituição na carta, a que a Lusa teve acesso.
Segundo Sara do Vale, desde o início da pandemia da covid-19, a associação tem recebido “muitos pedidos de ajuda”, sendo que uma das questões mais partilhadas pelas grávidas é a “questão do acompanhante” quer nas consultas quer no parto.
“Como sempre, Portugal peca por excesso. Os outros países europeus permitem acompanhantes no parto, aqui, apenas algumas mulheres têm e com restrições ainda”, afirmou a responsável, acrescentando ainda que na questão da separação da mãe e do recém-nascido, e da amamentação, “Portugal foi na direção oposta” ao recomendado pela OMS.
Além das grávidas, são também “muitas” as mulheres que no pós-parto têm pedido ajuda à associação, referiu Sara do Vale, assegurando ser também importante abordar, neste contexto, a questão da saúde mental.
“Incitamos a vossa instituição a reformular e clarificar a política de acompanhante durante o parto e quaisquer orientações que não sejam baseadas em evidência científica robusta, que apresentem divergências relativamente às recomendações da OMS, e que não tenham em consideração as repercussões negativas decorrentes da sua implementação no estabelecimento do vínculo entre a mãe e o seu recém-nascido, na amamentação e na saúde e bem-estar emocional de ambos”, apela a associação na missiva.
Neste momento, decorre também uma petição pública pelo “Direito ao acompanhamento da grávida nas consultas, procedimentos e no parto”, que contava esta quarta-feira à tarde com mais de 1.700 assinaturas.
“Estando em regime excecional, este direito tem vindo a ser desvirtuado. Visto que mães e bebés não são considerados grupos de risco e o acompanhamento nesta fase à gestante é essencial, vimos por este meio requerer que as consultas marcadas, ecografias, parto e outros procedimentos tenham a possibilidade de ter um acompanhante”, lê-se na petição.