No primeiro discurso de uma viagem de seis dias a África, o Papa Francisco defendeu que a melhor forma de combater o terrorismo é através do crescimento económico. Francisco aterrou esta quarta-feira no Quénia, um país marcado pela ameaça da Al-Shabaab, filiados da Al-Qaeda.
“A experiência demonstra que a violência, os conflitos e o terrorismo se alimentam com o medo, a desconfiança e o desespero que nascem da pobreza e da frustração. Em última análise, a luta contra estes inimigos da paz e da prosperidade deve ser conduzida por homens e mulheres que, destemidamente, acreditam e, honestamente, dão testemunho dos grandes valores espirituais e políticos que inspiraram o nascimento da nação”, disse Francisco, em Nairobi, a capital do Quénia.
Diante do Presidente e das mais altas figuras do estado do Quénia, o Papa incentivou os quenianos a lutar contra as divisões sociais. “Enquanto as nossas sociedades experimentarem divisões, sejam elas étnicas, religiosas ou económicas, todos os homens e mulheres de boa vontade são chamados a trabalhar pela reconciliação e a paz, pelo perdão e a cura dos corações.”
“À luz disto, encorajo-vos a trabalhar, com integridade e transparência, para o bem comum e a fomentar um espírito de solidariedade a todos os níveis da sociedade. Peço-vos, de modo particular, que manifesteis uma autêntica preocupação com as necessidades dos pobres, as aspirações dos jovens e uma distribuição justa dos recursos naturais e humanos com que o Criador abençoou o vosso país”, disse Francisco.
O Quénia tem sido dos países mais estáveis de África, mas, em 2007 e 2008, conflitos interétnicos puseram em causa essa estabilidade. Desde então, a principal ameaça à segurança interna do país, maioritariamente cristão, tem sido os ataques levados a cabo pela Al-Shabaab, que opera a partir da Somália.
O elogio ao ambiente
No primeiro discurso de uma viagem que tem previstas passagens pelo Uganda e pela República Centro-Africana, o Papa elogiou os líderes políticos do Quénia pela forma como têm trabalhado para proteger o ambiente e os recursos ambientais.
Francisco voltou a um tema que tem marcado o seu pontificado e que já mereceu uma encíclica, a primeira de um Papa dedicada exclusivamente a questões ambientais.
“O Quénia foi abençoado não só com uma beleza imensa nas suas montanhas, rios e lagos, nas suas florestas, savanas e regiões semidesertas, mas também com a abundância de recursos naturais. O povo queniano nutre grande apreço por estes tesouros que Deus lhe deu, sendo reconhecido por uma cultura de conservação que o honra.”
“A grave crise do meio ambiente, que o mundo enfrenta, exige uma sensibilidade ainda maior pela relação entre os seres humanos e a natureza. Temos a responsabilidade de transmitir a beleza da natureza, na sua integridade, às gerações futuras e a obrigação de exercer uma justa administração dos dons que recebemos”, disse ainda o Papa.
“Estes valores estão profundamente arraigados na alma africana. Num mundo que continua mais a explorar do que proteger a nossa casa comum, tais valores devem inspirar os esforços dos governantes para promover modelos responsáveis de desenvolvimento económico.”
Agenda cheia
Eram cerca das 14h00 em Lisboa quando o Papa chegou a Nairobi. Foi recebido pelo Presidente Uhuru Kenyatta. Após uma viagem cansativa, Francisco terá um resto de quarta-feira relativamente calma: haverá apenas um encontro com membros do Governo e do corpo diplomático.
Já quinta-feira terá vários eventos. De manhã, o Papa encontra-se com líderes das várias religiões e confissões cristãs do Quénia. Depois, celebrará missa na Universidade de Nairobi. Depois do almoço, haverá um encontro com padres, religiosos e seminaristas e, por fim, uma visita à sede da ONU na capital queniana.
Na sexta-feira, Francisco terá uma série de encontros e a meio do dia arranca para o Uganda.
A visita a África, a primeira na vida de Francisco, termina no domingo após uma ida relâmpago à República Centro-Africana, um país que vive dias de grande instabilidade.
A Renascença em África com o Papa Francisco. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa